Durante este caminho que vamos percorrendo, sofremos encontros e desencontros e entre eles sempre algo que podemos carregar na bagagem. Encontrar Dan Bejar no meio deste mar de música e sonoridades foi algo ao qual me agarrei com força. Cada reencontro com ele, tanto em disco como ao vivo é como que um renascimento arrepiante e cheio de um néctar meio agridoce que se desfaz em pequenos pedaços de prazer.
Três anos depois e sempre em tons algo camaleónicos, há um novo disco de Destroyer que nasce numa era de desencontros e poucos contactos e, acima de tudo, insegurança. É nesta conjuntura que algo suave mas forte nos dá a mão e nos leva a sentir tudo de todas as maneiras!
Destroyer é uma banda que tem um largo percurso que começou em 1995 no Canadá nas mãos de Dan Bejar. Senhor dono de uma voz característica meio encantada meio falada mas aveludada, arrepiante e penetrante. Para além disso tem um bom gosto incrível e o dom da ironia e da composição, recriando sonoridades distintas a cada álbum, não perdendo a identidade.
Have We Met é um disco com 10 faixas onde ele afirma inspirar-se na música de Bjork, Air, Massive Attack e Trip Hop dos anos 90 contendo uma lírica dotada de uma consciência mais chegada a Kaputt, álbum com o qual conheci Destroyer e com o qual me apaixonei de imediato.
Trata-se de um disco algo luminoso coberto por um lado negro. A dream pop e a art pop são as formas mais vincadas conduzindo ainda a uma majestosa e intrínseca melancolia. Apesar de frio e algo distante é um disco apaziguador e tranquilizante do qual podemos ter a companhia até adormecer.
“Crimson Tide” foi a primeira música que anunciou a vinda deste álbum e é, também, a primeira música do álbum. Música áspera e intensa que faz sonhar com a “Bay Of Pigs” do Kaputt e tem um encanto inato e algo espacial o uso forte da distorção e sintetizador leva-nos até uma espécie de primavera que brilha no escuro.
“Kinda Dark” revela-se mais sensual e intimista com riffs intensos e densos. A “It Just Doesn’t Happen” fora a segunda música a ser apresentada apelando a uma dança tímida mas com um ritmo folgado fazendo a transição para o espaço mais sonhador introduzido por uma sonoridade grandiosa e orquestral de “The Television Music Supervisor”. “The Raven” apresenta-se como uma música mais experimental e mais cineasta misturando o regresso ao sonho entre os passos da melodia. O salto para algo mais tropical com o convite a uma dança sensual e lenta é feito com “Cue Synthesizer”, terceiro single a sair antes do lançamento do álbum. Apesar de limpos, os riffs são arrepiantes e a adição de coro feminino acaba por elevar os pés. A faixa mais pequena do álbum é apenas instrumental e algo sinistra. Uma das que gosto mais, apesar de ser aficcionada a esta voz, talvez porque, apesar de não ter voz, tenha muito para dizer. Em “The Man In Black’s Blue” voltamos a sentir o cheiro fresco de Kaputt e com ele um arrepio de uma música extremamente bela acompanhada de tons de femininos nas vozes, também. O disco termina com uma música perfeita para um final. Uma música que tanto tem de sonhadora como de triste e ternurenta. Toda ela se envolve numa melodia encantadora que nos aperta o peito para se desfazer numa composição caótica e experimental numa espécie de purga de libertação.
Ouvir um disco de Destroyer é algo que aguça a sensibilidade e me faz sonhar. Acima de tudo, um reencontro com um conforto que advém de toda a magia da melodia e o encontro com a realidade de uma lírica forte e sem preconceito de quem conhece bem o mundo à sua volta.
Have We Met é talvez uma metáfora sonora de dois mundos que se podem ligar num ponto único de perfeição inexplicável. Saiu no dia 31 de Janeiro, já não vai ser apresentado no dia 30 de Junho e 1 de Julho no Porto e Lisboa, respectivamente, mas pode ser escutado aqui.