Neste ano em que não existe naturalmente um grande número de novas edições pelos motivos que todos sabemos (certamente), a nível mundial, e com efeito no panorama português é difícil poder contemplar a edição de um disco e a sua subsequente promoção necessária ao vivo, e convenhamos que antes da pandemia já existiam as dificuldades habituais, tais como o número reduzido de salas a apostar em novas bandas… etc, etc. Sendo então que editar um disco no último trimestre de 2020 é, um acto de fé… E foi, para os Too Many Suns que conseguiram fazer o concerto de apresentação de Meaning of Light com os devidos condicionantes do estado de coisas que actualmente também se vive na sala TimeOut, no dia 5 de Novembro, concerto em que a MDX esteve presente, podem verificar a reportagem fotográfica aqui.
O álbum Meaning of Light é apresentado no bandcamp dos Too Many Suns com umas notas explicativas de carácter positivo, ou seja, o mais feliz de todos os poemas de Charles Bukowski: “The Laughing Heart”, serviu de inspiração para o título The Meaning of Light, segundo o que nos é indicado, para além de que essa dicotomia entre as sombras e a luz, esse contraste como é descrito e que indicam como o fio condutor do disco.
E como resultou na prática? efectivamente muito bem. Os Too Many Suns são um power trio composto por Vasco Rato (guitarra baixo), Hugo Hugon (Guitarras e voz) e João Cardoso (bateria e percussões). Criaram um disco recheado de melodias pop/indie/folk/rock, o tema inicial “I see You”, demonstra logo um som equilibrado e cuidado na mistura onde todos os elementos casam muito bem: as vozes, os baixos e as guitarras, coesos todos os elementos entre si numa mistura audio cuidada. A fasquia sobe com o muito interessante tema “Memory Lane”, uma canção tipicamente de Verão mas com um elemento saudosista onde a banda tenta estender o tema até um culminar que acaba em fade out, após algumas guitarras que prometiam desenvolver por ali adiante… talvez sem dúvida, na versão ao vivo cumpram a promessa.
E de guitarras e mais cru na introdução é do que se trata em “Do Something”, vocalizado a acompanhar guitarras em agonia de feedback, tema rápido e eficaz que antecede “Rain”, o tema mais British, na minha opinião, deste disco com as suas melodias cativantes onde se vocaliza: ´Sometimes You Love Sometimes You Hate, Bee Gentle And Kind But Don’t Stop The Rain`, excelente esta canção. Já “Trip To The South of Nothing”, não traz nada de novo ao que foi escutado anteriormente mas curiosamente é o primeiro single do disco e vá-se lá saber porquê, é até agora o tema que menos gostei e efectivamente a canção que menos me seduz no disco.
A canção que se segue “Old Dust”, é muito mais interessante pela muita boa prestação vocal e pelo arranjo de guitarras orquestral que tem perto do fim um belo e mesmo muito breve apontamento na estética shoegaze a fazer quase lembrar os Slowdive. ”I’m Ok”, a canção seguinte é um exercício de rock que soa juvenil mas eficaz. A canção “Like I Do”, é, quanto a mim, o verdadeiro single do disco. Os Too Many Suns, são verdadeiramente interessantes quando revelam ambientes intimistas e guitarras e vocais atmosféricos com ritmo, excelente canção esta que dava também um bom single. Com o disco a terminar, “Low”, é um momento intimista só de voz e guitarra para ser ouvido com mais atenção. A voz de Hugo Hugon carrega até ao fim junto com a guitarra num momento mais calmo mas talvez o mais dark do disco inteiro e deve ser este ‘contraste’ de que falavam.
Em suma, ao ouvir “Light”, a faixa que encerra, do disco tiro duas conclusões: é um disco que teve uma cuidada produção e que pretende captar a fotografia de uma jovem nova banda que após um primeiro EP intitulado Garden, aventurou-se para um primeiro longa duração, e essa fotografia foi bem tirada; temos uma banda competente e criativa com confiança para dentro do indie rock se aventurar por ambientes diferentes num produto que consegue ficar homogêneo pois transmite para além do cuidado arranjo das canções, o espírito da banda, e é apresentado para além do formato digital em formato cassete, verdadeiramente cool, digo eu… De salientar que todas estas canções nos remetem para um imaginário de uma banda a tocar ao vivo, ou seja, esta é uma banda de guitarras, daí que repetidas audições poderão despertar mais curiosidade para o universo dos concertos que nos dias que correm se esperam que venham a ser em número condigno quando as actuais restrições do ‘novo normal’ forem sendo levantadas progressivamente. Assim é que desejo para esta e outras tantas bandas que certamente trabalham nas sombras para quando todo este pesadelo terminar tomarem o seu lugar ao sol. Para já, desfrutem de uma banda nacional que não perdem nada em ouvir, e quem sabe sejam contagiados pelo espírito positivo que aqui neste disco se vive.
Meaning of Light ganha forma em cassete, inclui um link para download e ainda alguns extras, disponível desde o dia 30 de Outubro.