Não sei se a “Santa Marta das Cortiças” tem algo que ver com esta sexta-feira santa em que é apresentada. Sei que às vezes as coisas não precisam de estar ligadas ou então estão ligadas em demasia. O que sei também, nesta paixão em ascensão que nutro por este instrumento, é que estamos perante uma obra prima deste nosso 2021 que tanto parece um 2020 que nunca acaba.
Já se dizia no meu filme preferido que não pode estar sempre a chover e, em regra, tento aplicar isto a tudo na vida. A verdade, é que no meio de tanto caos, incerteza e tristeza que nos tem rodeado, há pequenas coisas que nos vão dando respiradores para que possamos continuar este caminho que é a vida.
“Santa Marta das Cortiças” é a antecipação do primeiro disco ao piano de Homem Em Catarse. Traz consigo a harmonia intensa de quem carrega uma sensibilidade e talento extremos. Esta música não precisa de palavras para nos dizer tantas coisas. O peito cria um nó e a respiração oscila com a narrativa que vamos absorvendo. Música belíssima que há que ouvir em repeat e, se possível, de olhos fechados porque quando os fechamos, sentimos com mais força.
Venha Sete Fontes e os seus diversos graus de intensidade.
Com data de edição marcada para 30 de abril e selo Regulator Records, o novo trabalho oferece uma reflexão sobre o território, de forma delicada e emotiva. Composto entre o piano, os field recordings e a electrónica, sete fontes é um disco orgânico que se alimentando de um mundo sentido à flor da pele e do distanciamento causado por uma pandemia. O primeiro tema de avanço, Santa Marta das Cortiças, foi lançado dia 2 de abril nas plataformas digitais.
Produzido no âmbito do programa de apoio à criação artística Trabalho da Casa promovido pelo gnration, sete fontes contará com uma pré-apresentação online, através de uma peça vídeo pelo artista multidisciplinar Francisco Oliveira. Partindo da reflexão, delicada e emotiva, que o disco faz sobre o território, Francisco Oliveira entrega uma dimensão visual que propõe uma outra reflexão sobre um território informal, num universo reflexivo e onírico, com base em manipulações videográficas e de técnicas de modelação 3d. A peça está disponível até às 22h00 de 3 abril, nas plataformas digitais do gnration.
Natural de Barcelos, mas atualmente radicado em Braga, Afonso Dorido é um dos fundadores do coletivo post-rock indignu [lat.], tendo, desde 2013, vindo a construir um sólido caminho a solo como Homem em Catarse. Estreou-se em 2015, com o promissor EP “Guarda-Rios”, para, dois anos mais tarde, nos levar por uma “Viagem Interior”, disco conceptual onde, a partir de um texto de José Luís Peixoto, descreve 17 locais do interior de Portugal. Em 2019, grava o seu primeiro registo ao vivo, “Ao Vivo na Porta 253” e, no início de 2020, lança “sem palavras | cem palavras”, disco integralmente instrumental criado a partir de um poema de cem palavras escrito por si.
Fotografia – Maria João Salgado