Se há coisa que aprendemos com tudo o que nos rodeia no momento é que o tempo, seja em abundância ou em escassez, nunca deve ser desperdiçado. O tempo que nos dá e tira tantas coisas é um dos bens mais preciosos que o ser humano pode ter na vida.
Com mais tempo, conseguimos olhar melhor para nós e para coisas dentro de nós e isso deixa-nos, de certo modo, despidos e rendidos a uma espécie de romantismo melancólico algo nostálgico até e nos faz criar coisas que, se outra forma, não criaríamos.
O tempo que nos guiou a um passado em tons sépia levou-nos a descobrir uns The Underground Youth românticos e melancólicos, com mostras de talento exímio e uma sensibilidade extrema que, por vezes, só se consegue transmitir pela música.
The Falling podia ser a queda de Craig. Podia ser a minha queda. Podia ser a queda da humanidade. Mas nunca a queda dos The Underground Youth!
The Falling é um disco especial que tem de ser absorvido em toda a sua dimensão, emoção, densidade e, acima de tudo, intensidade.
Este décimo disco da banda de Manchester residente em Berlim foi feito em plena pandemia, de corações partidos nas casas uns dos outros. Envolve-o o charme aveludado de uma poética sublime e irresistível com aposta na guitarra acústica, piano, acordeon e violino. Nele, oito faixas de sentimento a cru!
Começo pela faixa que dá nome ao disco com um início em guitarra acústica algo angustiante, densa e harmoniosa mas, ao mesmo tempo, desconcertante e intimidante. A voz country e os violinos profundos a cheirar a deserto misturam-se com umas cordas bastante hipnotizantes como se estivéssemos perante um ritual. “Vergiss Mich Nicht” é mais uma lufada de country mas em forma de lamento. Com uma composição entre a guitarra acústica e a harmónica aborda temas como o ego e o narcisismo. A “Egyptian Queen” traz uma melodia e voz que oscilam entre Cohen, Nick Cave e Bob Dylan. Trata-se de uma harmonia bela e envolvente com um ritmo bastante interessante rasgado pelo violino que nos deixa com um formigueiro no corpo. Uma das músicas mais tristes deste disco é a “And I…” que nos transporta a uma folk noir triste e romântica. Trata-se da balada do disco e Craig afirma ter sido a música de amor mais honesta que alguma vez escreveu. Não preciso de escrever muito para que percebam a imensidade de beleza que carrega nela.
“A Sorrowful Race” foi o primeiro single que mostraram deste disco e a primeira música que convida a dançar colado. A esposa de Craig faz os coros e as vozes dançam connosco sob o poder das cordas. A “For You Are The One” faz-nos regressar ao puro country de voz grossa. É uma música cheia, com uma densidade que nos tira o ar e nos magnetiza. É, talvez, a música onde o violino tem uma força superior. “Cabinet Of Curiosities” tem início com vozes em sobreposição e com um ritmo um pouco mais acelerado. Conseguimos sentir a alma a gritar em cada nota, acorde, composição, frase e não conseguimos não gritar com ela! A guitarra tem um cheiro a western e aquele deserto de que tanto gosto. Para encerrar o disco uma música mais lenta e introspectiva ao piano. Dotada da intensidade bela que acompanha este instrumento, é tudo o que precisamos para repousar a alma e o coração tão apertados neste disco.
The Falling é uma peça de romantismo puro e triste que nos remete para uma dimensão quente e reconfortante, algo desconhecida destes The Underground Youth. Pode ser escutada aqui.