Estes dias que têm parecido todos demasiado semelhantes começam a compor-se de tons quentes com o regresso daquilo que mais me alimenta a alma.
Esta atmosfera de brisa revigorante veio acompanhada de texturas serenas, profundas e dotadas de alguma magia. Tudo no molde apaziguador e ténue do encanto de um piano de parede nu acompanhado das mãos de Marco Franco.
Marco Franco, multinstrumentista de exímio talento, rendeu-se à atracção magnética do piano em 2017 e, com ele, tem vindo a construir trilhos belos sonoros.
À meia luz, em frente a umas cortinas aveludadas, senta-se, franzino e de forma esguia como a leveza que lhe escorre pelos dedos, defronte de um piano de parede despido no grande auditório da Culturgest.
A entrega foi mútua nesta sexta-feira, 14 de Maio. As notas, leves e íntimas, suaves como os tons da primavera onde nos encontramos, deram início àquilo que foi uma jornada de embalar sonhos. Em silêncio absoluto e entre melodias, conseguimos ouvir as cordas do piano. Trazem com elas arrepios.
As músicas, compostas de vários estágios e amplitudes, com texturas leves ou negras e densas nunca perdiam a sensibilidade e capacidade de nos colocar o coração no ritmo certo para que pudéssemos parar o tempo e flutuar com ele, lentamente.
Por vezes, dava por mim a vaguear numa espécie de labirinto mental com paredes floridas e com veludo onde caminho sem pressa nem medo.
A introspecção também se mistura com o suspense romântico de um ritmo mais acelerado que ajuda a abanar-nos para que não nos percamos no aconchego harmonioso da melodia.
Arcos saiu neste dia e foi tocado na íntegra, fazendo parte dele a versão da “Anecóica” de Norberto Lobo. Esta versão guiou-nos ao algodão das nuvens e ao seu toque suave na palma dos pés. Marco pediu desculpa a Norberto, mas não tinha de o fazer, pois não estragou nada.
Em tons de azul surge para um encore de uma música e assim terminou a agradável e aconchegante viagem a Arcos.
Para quem ainda não o fez, pode ouvir e adquirir o disco aqui.
Fotografias da autoria de Vera Marmelo.