The Great Southern Lights saiu no passado dia 27 de Setembro e tem 11 faixas carregadas das mais variadas influências, os mais variados estados de espírito e o mais variado bom gosto.
É um álbum para se degustar devagar e ao sabor de um belo lusco fusco seja ele vespertino seja noctívago. As paisagens sonoras por onde passamos contam-nos histórias e, ao mesmo tempo, oferecem a magia da melodia que as acompanha. Com uma composição elegante e ondulante, a linha vai oscilando ao longo da audição, afastando a monotonia e entregando-nos a um complexo de emoções que sabe bem sentir.
“Hungry” acompanha o lançamento deste disco, revelando uma nova tonalidade diferente das que conhecíamos.
Pelas palavras do autor:
Mister Roland parte de novo, em direção a um luminoso sul de quem tenta que os caminhos sejam pessoais. Não lhe bastará chegar a um lugar diferente; é preciso fazer matéria da própria distância, fazer dela sinónimo de quem a percorre: eis o que singulariza a viagem, o que a torna ato e não mera deslocação. Assim, The Great Southern Lights é a memória da mais singular viagem de Mister Roland: a mais singular porque tem como destino a própria evasão, a possibilidade de espaço; é aquela em que o indivíduo descobre os seus nadas, os terrenos da possibilidade de ser tudo que não ele mesmo. É, assim, a sua mais verdadeira história até agora, conquanto será também a mais fabulosa, a mais assaltada por fantasmas, por deuses abandonados e (re)encontrados, por visões e ficções que se confundem.
Na linha das viagens anteriores — Mayday; Trembling Giant —, The Great Southern Lights é um trabalho de identidade. O contador de histórias, trazendo a própria máscara na voz, conjura um raro deserto, em que toda a areia se torna espelho: os seus valentões titubeiam, os seus penitentes são inquebráveis, as suas miragens, certezas de um ardil. The Great Southern Lights é um jogo de enigmas da imagem de si, que aqui nos surge em permanente metamorfose, através de versos em que colidem a dúvida e certeza, o alto voo e o raso passo, condensados numa musicalidade que, sendo a menos familiar até agora, é também a que melhor caracteriza a visão artística do autor por trás do protagonista.
Se The Great Southern Lights é o álbum das grandes paisagens, das grandes ideias, da grande fuga, não será, por isso, um trabalho em que deixamos de conhecer Mister Roland. Muito haverá que nos transmite um eco de aventuras passadas, notas e histórias em que permanece o perfume da terra de Ocidente bravio, ainda exótico — horizonte de excelência deste nómada. Pode dizer-se, então, que este será, sobretudo, o trabalho do regresso, o relato de alguém que se recolhe no mais íntimo território. A questão, sabê-mo-lo, é que não pode nunca regressar-se o mesmo.