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“Jar” é o single de estreia de Ledher Blue

Ledher Blue nasceu em Guimarães, pela mão de Zé e Pedro Duarte – dois amigos que lá se conheceram, na adolescência, e que aí partilharam a luta contra a mocidade. Esta amizade, temperada com alguns destilados, acelerou a passagem do tempo. Alguns anos depois, quando conheciam já de cor a paisagem noturna da sua pequena cidade, decidiram trocar a asfixia das Praças pela liberdade de uma velha garagem. A luta era agora outra e, armados com o material de que dispunham, disparavam à monotonia. Este passatempo foi-se enraizando, começando a ser levado a sério.

Chegou o confinamento e, cerceados pelas restrições sanitárias, partiram os mealheiros para investirem em equipamento a sério. Construíram um estúdio caseiro – no anexo de casa dos pais do Zé -, com tudo o que uma boa festa requer. Para lá se mudaram. Após alguma formação autodidata em programas de edição, estavam aptos a gravar o que tinham criado até aí.

A banda aumentou com a entrada de uma bateria virtual – sob a forma de piano -, e de um baixo emprestado. Esta nova amplitude de possibilidades serviu para completarem as suas músicas mais pesadas. Depois de lançarem algumas delas, online, surpreenderam-se com uma receção calorosa. Isto motivou-os e, dado o resultado obtido com material e técnicas caseiras, decidiram subir mais um degrau. Gravaram um EP, livre das virtualidades com que tinham improvisado, depois de uma residência no interior de Portugal.

Os dois elementos de Ledher Blue situam-se em pontos diametralmente opostos: quanto aos seus gostos musicais, sentido estético ou, até, forma de estar na vida. A sua música vive desta tensão que, creem, produz um resultado singular.

Essa avaliação ficará a cargo do público e poderá ser feita em novembro, aquando o lançamento do EP Downside Up.

“Jar foi a última música que gravamos para o EP, e é o final que se impunha depois de todas as sessões em estúdio e de desemaranhamento criativo.

O EP é o espremer identitário da personagem principal enquanto reforma a sua vida passada. É sinuoso, abrupto, por vezes extenuantemente dramático. É uma mixórdia de inconsistências juvenis e da falta de distância que a arrogância prende.

Jar é o reconhecimento ressentido que o personagem tem de tudo o que se passou, alguns anos mais tarde. Depois da ressaca do imediato. Depois da dor dos bares e da mágoa dos balcões (‘I ask for some pain on the bar, she gave me three, I ask for resentment on the stall, and she gave me four’) enclausuraram as memórias passadas, não numa gaveta, mas num frasco transparente – usualmente cilíndrico – onde a metafísica é bebida sem desplante.

Jar é a nossa Roncesvalles – sem nota de rodapé. É a pista silenciosa para o que está por vir no Ep e é o resultado final do que irá acontecer ao personagem e é como nos sentimos depois das gravações acabarem e é por isso que tem de ser críptico mas afável ao mesmo tempo, ou simplesmente, o porquê do nosso produtor se chamar Rolando.

Video:

O set tinha de transparecer uma casa em que qualquer indivíduo podia morar, despida de sentimento e com uma pitada de amargura. É este o habitat de memórias passadas. O movimento da cara é fluido. Como em todas as lembranças, a linha memorial é picotada de detalhes esquecidos ou estradas sem sentido É por isso natural que o nosso personagem se frustre, por vezes, deixando de cantar para voltar ao mundano.

As cervejas, as pontas de cigarro, a luz ofuscante do frigorífico, a mesa intransigente, o sofá apático, o ambiente mórbido; tudo isto é uma reflexão do caminho que as memórias viajam até àquele ponto. Toda a parafernália é um modo de personificar quietude e plenitude. O apogeu do velho e da criança.

A sombra feminina é a personagem da letra que para de estar disponível. Apesar de o ajudar no início, simplesmente desvanece. Ela representa a mão amiga – quase maternal – que todos os jovens têm embaraço de admitir que procuram; e, a invariável revelação que, logo, acabará por desaparecer.”