Mais um dia forte em Coura e este, especialmente, cheio de amor! O dia nasceu ensolarado e a fome de música brilhou com ele.
O palco principal começou em modo jazzy com a sonoridade tranquila e pouco entusiasta de Yellow Days. Alguma distorção e uma vibe mais soul trouxeram um arranque de dia mais sereno e em modo aperitivo.
A ironia bem disposta de Donny Benét viria a levantar o astral e os ânimos. O australiano não só nos traz um humor extremamente cativante como nos oferece uma sonoridade disco cheia de boas energias e extremamente contagiante. Donny rapidamente conquistou a plateia e manteve-a a dançar até ao fim do concerto. Num ritmo sensualão as músicas eram compridas e em loop sem cansar um segundo. Donny partilhou histórias da adolescência sem nunca perder o humor e terminou em grande com a música “Santorini” que gerou um comboio de dança no público.
Mais um erro de hora e local viria a seguir com The Comet is Coming. O duo de jazz meio experimental meio electrónico veio carregadinho de samplers e com pouca efusão para manter o público animado depois de um concerto de Donny. Não lhes retirando o devido valor que têm, tornou-se em mais um concerto aborrecido naquele palco tão grande para eles.
O fenómeno de Tik Tok Molchat Doma viria de seguida. O trio de post punk tinha uma multidão à sua espera. Com uma voz grossa e negra, trouxeram-nos uma dark wave cheia de ambiências densas e escuras. Com alguma distorção e amor aos sintetizadores trouxeram um romantismo dramático transformado em dança colectiva.
O concerto do dia estava prestes a chegar e vinha em modo festivo. Os Parquet Courts estavam, pela primeira vez, a pisar o palco principal do Vodafone Paredes de Coura e nesse dia, há precisamente 10 anos, saia o segundo disco da banda Light Up Gold e não podiam ter feito uma celebração melhor! Com um jarro de flores em cima do palco e uma harmonia tímida mas extremamente forte, os nova iorquinos trouxeram-nos um desfile de hits que percorreu a discografia toda da banda, não perdendo o público por um segundo fosse no seu registo mais art-punk e pós-punk como no registo mais punk-funk! A voz Andrew, mais falada que cantada, tem a versatilidade genuína de quem sabe o que está a fazer e fá-lo da melhor maneira que sabe. A banda de multi instrumentistas cheios de talento que colou diversas músicas com transições perfeitas e cativantes, elevou a um alto patamar esta noite! Seria difícil destronar este concerto que acabou com a distribuição das flores pelo público.
De seguida vinha um concerto muito aguardado que, apesar de estar carregado de amor para distribuir, a prestação musical não conseguiu fazer jus à humildade e gratidão que a banda transparecia. Os Turnstile já têm mais de 10 anos e tocam tudo menos punk hardcore, como intitulam a sua música. Apesar da pouca definição sonora e da quantidade de influências que se denotam na sonoridade da banda como Rage Against The Machine (a mais demarcada), Faith no More, Green Day e até riffs à Guns’N’Roses, tocam de forma segura e directa. O instrumental é forte, com toques de raiva fugidios e uma energia que a banda acompanha corporalmente, existindo várias danças descoordenadas, solos de guitarra e até de bateria. A escola foi boa, o caminho é que não está a ser bem aproveitado. A voz de Brendan é extremamente fraca e não acompanha o poder do instrumental sendo a do baixista ligeiramente melhor mas não o suficiente para acompanhar este estilo. Fora o facto de estarem ligeiramente verdes, deram tudo o que tinham e o que não tinham! Entregaram-se ao público de uma forma genuína e humilde e receberam o mesmo. O público não parou de saltar, fazer circle pits, crowdsurfing e, principalmente, de sorrir. Há quem tenha dito que fora o melhor concerto do festival, a minha modesta opinião é que foi, sem a menor dúvida, o concerto onde a conexão foi maior, o que não seguiu o resultado musical. Por momentos houve uma viagem no tempo, àqueles cartazes antigos do festival, onde as bandas eram mais genuínas e não filhas de produtos.
Para encerrar, uma dança elegante e suave a seis corações emocionados. A pop/disco dos L’Imperatrice que, por vezes, fazia lembrar Aqua, inundou o anfiteatro de beleza e comunhão, tanto que levou a vocalista às lágrimas de emoção. Deu para dançar levemente e descontrair o corpo da dureza anterior.
Este dia ficou marcado pela disco, pela humildade e pela celebração num mix que nos aqueceu o coração e deu embalo para irmos a sonhar até aos nossos lençóis.