O fim estava a aproximar-se mas a ânsia por música não desvanecia nem um pouco. Esperava-nos um dia cheio de boas surpresas, daquelas que aquecem o ouvido, o coração e alma!
Começo com a primeira delas, Sylvie Kreusch ou um furacão tal PJ Harvey deixou as poucas pessoas que estavam diante dela de queixo caído e prendeu-nos até ao último minuto!
A belga de 31 anos transpira música e rock’n’roll! Apesar de cruzar o rock com a pop e alguma sonoridade mais indie, fá-lo de modo negro e denso com camadas de excelentes composições e uma voz poderosa, tal a sua dona! A desfilar e deslizar num vestido vermelho fogo, Sylvie abriu da melhor forma este palco e deixou um formigueiro inquieto em nós.
A continuação do formigueiro dava-se com a dupla Baleia Baleia Baleia! Donos de uma energia contagiante e uma sonoridade explosiva e impactante, estes rapazes deram um concertão! A alegria de Molarinho sentia-se do outro lado do recinto e isso ajudou ao desempenho que foi em crescendo, à medida que o público correspondia à energia transmitida. Com letras focadas na crítica social, um baixo potente e uma bateria efusiva, os Baleia Baleia Baleia deram um concerto à sua medida, totalmente merecedor do palco que pisavam!
O momento soft e de relaxamento de fim de dia vinha a seguir com um desnível de emoções auditivas com Arlo Parks. O indie sonhador que toca serviu para o coração desacelerar e para fugirmos antes de ficar completamente aborrecidos.
Mais uma surpresa que levaria os corações a quase sair pela boca! Apesar de terem extraviado o seu material, os Boy Harsher conseguiram em modo improviso dar um dos concertos da noite! A dupla de dark wave carregadinha de uma densidade negra, trouxe momentos de dança em grupo tal ritual, tal união de almas de modo transcendente. A distorção vocal, em simbiose com os sintetizadores, entrou em nós como um ser superior cheio de poder numa espécie de vaga gigante e demolidora.
Com os tremeliques ansiosos de quem sabe que o que se segue pode ser um momento único no tempo, como já é habitual, vemos Ty Segall & Freedom Band ocuparem as suas posições. Depois de uma intro carregada de fuzz e esquizofrenia, abana-nos um baixo corpulento e atira-nos para as guitarras frenéticas, loucas e totalmente desconcertantes. Em cerca de hora e meia Ty Segall deu-nos uma sova de genialidade musical! Um concerto dedicado aos fãs, com músicas fortes, antigas, desconhecidas e novas em formato eléctrico que nunca deixou de lado o amor ao fuzz e ao reverb! As músicas, quase na sua maioria com arranjos diferentes, tornaram-se peças de arte dignas de enaltecimento que queríamos agarrar para nós. Por entre as músicas, zero silêncio e uma ligação meio improvisada que as colava com super cola 3! O Rei Ty deu-nos uma sova bem dada de compacidade instrumental que acompanhou com a sua voz tão característica deixando um rastilho de desorganização mental e emocional que se manifestou no brilho dos olhos de quem soube aproveitar o momento! Este terá sido, para esta que vos escreve, o concerto da noite e, sem a menor dúvida, o concerto do festival!
Este quarto dia foi de teste à capacidade do nosso coração! Coberto de texturas complexas, densas e quase transcendentes, encheu-nos o corpo de uma electricidade explosiva que, por vezes, se transformava em transe.