Aquele que é o nosso bem mais precioso depois da saúde, é fugaz e escorre-nos por entre os dedos. Cinco dias de festival passaram sem darmos conta, deixando um rastro de felicidade mesclada com fadiga que nos fez renascer.
O dia começou cedo com uma Music Session de Manel Cruz no adro da Capela Nossa Senhora da Purificação. Em cerca de meia hora e em modo acústico Manel proporcionou um concerto bastante intimista e belo. A simplicidade e humildade de Manel encaixam em qualquer sítio e momento e conseguiu embalar-nos de modo aconchegante na sua poesia de alma selvagem e quente.
Após este momento, chegara a hora de ouvir o balanço desta edição tão aguardada do festival. Em suma, o balanço não podia ser mais positivo, pela aderência, pelo cartaz e pelo colo que se sentiu durante os dias todos. Apesar de ter sido a edição mais cara de sempre foi tudo compensado. O festival contou com 115 mil pessoas nos 5 dias e cerca de 6 mil no Sobe à Vila que começa a ser um ponto de referência para muitos. Foi, também, a edição de celebração de 10 anos de parceria com a Vodafone e de resumir esta relação que tão bem resultado. Foi, ainda, feito o anúncio das datas de 2023, sendo que o Vodafone Paredes de Coura regressa de 16 a 19 de Agosto do ano que vem.
Pela primeira vez, havia fila para entrar no recinto (antes das 18h) e, pela primeira vez também, o palco secundário estava inundado de pessoas para o primeiro concerto do dia. É assim o poder de Manel Cruz!
Sem banda, despido de roupa e despido de tudo, tocou-nos a sua alma e entrou directamente na nossa! Não é preciso muito para que os pequenos pormenores que Manel carrega se tornem sempre tão especiais. Fez um mini resumo do seu percurso musical e mostrou músicas feitas no confinamento. Altura em que nos lembramos que tinha existido confinamento! Tudo à voz, guitarra acústica e bandolim num momento emocionante e belo!
De seguida esperava-nos o “tradicional” indiezinho de fim de tarde que, apesar de ser bem feito e bem tocado, por ser igual a tudo, se torna sempre aborrecido. Falo de Far Caspian na abertura do palco principal.
O concerto que se seguia foi uma bela e forte surpresa neste dia. La Femme têm uma frente de palco composta por 4 teclados que fazem acompanhar por percussão, guitarra e baixo. Aproveitando a enchente, o colectivo francês agarrou o público com força e transportou-nos para uma pista de dança gigante cheia de boas energias e ternura. Sem desiludir, tocaram os hits que já dançámos vezes sem conta noutras luas, deixando no ar a sensação de que deveriam ter tocado mais tarde, para acalentar ainda mais a nostalgia noctívaga.
Perfume Genius seguiu-se e com ele a airosidade da sua figura. Como que em constante drama romântico, Mike usa a intensidade como arma para abrilhantar as suas músicas. Que, apesar de serem indie e sonharem, têm um toque de negrume denso e lhe servem como uma luva na representação. É sempre um momento encantador assistir a um concerto de Perfume Genius que tão bem sabe usar a música como arma do amor, para bem e para o mal.
O furacão Yves Tumor vinha de seguida. O poder que este senhor tem em palco é algo que ultrapassa este mundo e até a nós próprios. Numa sonoridade meio experimental, meio industrial mas extremamente forte deu cabo de nós em dois tempos e deixou-nos totalmente rendidos aos seus pés! Com o negrume misterioso que carrega e a exuberância que aparenta, fez-se acompanhar da sua banda que tão bem trabalha as composições, principalmente as cordas, e abanou-nos até aos ossos.
Para terminar este quinto e último dia de festival, os americanos Pixies e a sua simpatia inata já pouco esperada. Sem estabelecerem qualquer contacto ou ligação com aqueles que os veneram e todos os outros, deram um concerto muito bem estruturado e pensado com um desfile de hits entre músicas novas com poucas paragens e ferozmente, mostrando que estão ali para tocar e nada mais.
A verdade é que existe sempre um mixed feelings nos concertos de Pixies. Por um lado acompanharam a nossa adolescência e fizeram-nos sonhar ao som das suas músicas, por outro a frieza que carregam, não oferecendo sequer uma saudação conseguem dar aqueles que estão ali diante deles, a berrar as suas letras e a sentir tudo ao pormenor, faz com que a excitação desça e a nostalgia se dissipe. Não foi um mau concerto! Foi apenas um momento rápido e sem comunhão onde se ouviram músicas da banda sonora da nossa vida. Confesso que fico sempre sem vontade de os rever!
Termina assim esta edição tão grande e intensa, já com o chão em pó e a relva em palha e com o desfilar dos melhores momentos no ecrã. Desta vez ao som de “Wuthering Heights”, de Kate Bush que nos arrepiou até aos ossos, para depois celebrarmos a amizade e o amor num só abraço com a habitual “All My Friends” de LCD Soundsystem.
Em jeito de resumo desta edição, resta dizer que se cheirava no ar a vontade de viver, o amor e a amizade. Para além dos excelentes concertos vividos, sentiu-se uma partilha enorme de empatia e harmonia indescritível. No fundo, Coura é isso! Um pote onde se cria uma poção de boa música, companheirismo e momentos únicos!
Que Agosto chegue rápido!