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outubro, novo disco de Davide Lobão com uma versão documental

«Contamos o tempo, as horas, os minutos. Calendarizamos a vida. Organizamos os dias, os segundos, os meses. Planeamos, projetamos. Pesamos o melhor, o pior, o possível e o impossível. Reorganizamos a vida a cada passo. E num momento a vida muda e num momento a vida acaba. Enquanto o vemos, junto de nós, repensamos, reajustamos. E quando formos nós?
Pensamos num ciclo, na razão, na crença ou na ilusão. É nos opostos que procuramos o equilíbrio e é sem ele que nos equilibramos. Por isto quis descobrir o que quer dizer o tempo. O que quer dizer um ano, um mês, um dia. Porque se chamam assim e o que são. Sabemos bem o que o tempo é para nós. Tempo é a coisa certa que temos e que escolhemos como usar.»
Davide Lobão 

‘outubro’ é o novo trabalho de Davide Lobão, músico do Porto, voz e mente por trás de projetos como Chemical Wire, O Bisonte e Granada. Este novo disco chega-nos em nome próprio depois de se ter apresentado como O Diligente, que acabou por abandonar, porque ‘ a diligência é uma coisa muito exigente’ e o importante é ‘o valor que a amizade tem durante o processo de criação e na aprendizagem de quase tudo sobre a vida adulta’. E neste processo de aprendizagem, nasce um projeto em nome próprio e uma banda composta por Davide Lobão, Gualter Barros na bateria, Andrés Malta no baixo, Miguel Moura nos synths e José Vale na guitarra. 

Composto por 8 canções, com instrumental, música, letra e mistura de Davide Lobão, artwork de Catarina Araújo,  ‘outubro’ foi masterizado por Filipe Louro no Arda Recorders com distribuição física e digital pela Valentim de Carvalho. 

Davide Lobão explora e escava nas suas letras dentro de dicotomias mundanas como resiliência vs resignação, comunidade vs individualismo. Segundo o artista, se por um lado temos ‘as massas que se revoltam perante a injustiça da sua existência, mas que se resignam sistematicamente à recolha de pequenas migalhas’, por outro, são confrontadas com ‘a suplantação de sistemas e ideais políticos que não lhes servem’, acentuando ‘a negação de comunidade, seja em que contexto for, num salve-se quem puder’, onde ‘a humanidade fica em suspenso’. 

‘Lés’ é a música que abre o disco com a frase “caminho a passo para chegar / lento num passo de caso certo” como se fosse uma máxima não de velocidade ou de determinação, mas sim enquanto afirmação de quem controla um tempo. ‘Pós-República’ é o antagonismo de ser o que não se quer ser, de desabafar quando não se quer desabafar, de ser bem-sucedido sem saber bem porquê. A bruma da memória, no singular, podia ser um verso retirado do hino nacional, de uma qualquer simbologia patriótica. Mas não. ‘Bruma’ é a terceira música, uma crise de identidade, de autoestima, constante e permanente, na concretização do indivíduo. A quarta música do disco chama-se ‘Quinta’. ‘Quinta’ por ter sido feita em quinto lugar, por ter uma estranha relação com a história dos dias, por encontrar semelhanças na história de Júpiter, nome que analogamente é a nossa quinta-feira. Ou um título que é só isso mesmo. 

‘Seis não é seis’ nasce das verdades indissociáveis, daquelas que acreditamos só no que queremos acreditar, por mais que os factos sejam sempre factos: “Dentes aos bolsos / sorriso a fingir”. Das verdades absolutas fazemos tripas coração porque elas não geram discussão “Roubei-te todo o teu ouro / fiquei com parte do tesouro”. Porque a ‘25 do nove’ “Pudesse a pagar tudo”, a dicotomia do sentido que muda com um erro ou um erro que pode invalidar todo um sentido. Um profissional da interpretação, do domínio de cada tema, da discussão de cada coisa na procura de ser ‘Pró’. Um caminho que é ‘Longo’ e que no fundo “estamos todos / quase todos / alguns juntos / neste longo caminho”

‘outubro’, conta com uma versão documental, cinematográfica, de concerto ensaiado ao vivo, uma viagem imagética pelo disco, filmado em Vila Nova de Foz Côa, pela Pé em Triste e realizado pelo Ricardo Pesqueira. 

O disco saiu no passado dia 28 de Outubro e o concerto de apresentação deste novo trabalho acontece no dia 7 de Dezembro, pelas 21h30, no CCOP, no Porto: https://www.davidelobao.com/concerto-ccop