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Apresentação de ‘adeus’ último álbum de Indignu, no Musicbox em Lisboa

Vários concertos aconteceram na zona ribeirinha de Lisboa, na última semana do ano. A sala do Musicbox recebeu uns quantos e a Música em DX andou por lá, no dia 29 e dia 30. E foi pelas 22h00 deste último dia, que subiu ao palco a banda de Barcelos, os Indignu. Agora com quatro elementos (menos um guitarrista) e mais um novo álbum na sua discografia, o ‘adeus’. Com algum atraso (deveria ter iniciado às 21h30m) que foi justificado para que a sala ficasse mais composta e, acima de tudo, com um público que sabia ao que ia. Sob uma penumbra de luz os músicos entraram um a um no placo e ocuparam em silêncio os seus lugares. Apesar de terem menos um músico, os instrumentos eletrónicos (sintetizadores) e teclas aumentaram, tornando o palco mais pequeno. O espaço demasiado pequeno para que tudo e todos pudessem respirar com mais conforto, a intensidade do som requer essa oxigenação.

Ao longo de 45 minutos mergulhámos numa viagem sem fôlego! As faixas de ‘adeus’ correram ininterruptamente, como se nos fizessem tropeçar em melodias compostas por camadas sonoras vivenciadas em altos e baixos. Nas alegrias eufóricas do pós-rock das guitarras e dos laivos dos sintetizadores, ou na nostalgia introspetiva do “pós-fado”. À serenidade do piano aconchegava-se o sintetizador, que por vezes subia demasiado mas, tal como os músicos admitiram em entrevistas, este é um álbum de viragem e de novas experiências.

Retomámos a respiração quando Afonso Dorido agradeceu a nossa presença e partilha a sua alegria por estar a lançar o seu 5º trabalho de originais.

Ainda estávamos a recuperar da primeira parte quando Graça Carvalho se sentou e abraçou o violino. Qual Pietà que consola o filho ensanguentado nos braços, sussurrando a dor que vai renovando a esperança. Qual uivo de raposa ferida, a correr desenfreada por entre os rochedos da serra cobertos de erva daninha rasteira e seca, do frio gélido e do sol tórrido. Dedilhava o violino como uma guitarra, num som grave e monocórdico, enquanto o Afonso puxava as cordas a roçar o amplificador. As grossas cordas do baixo iam sinalizando uma mudança de ritmo, e uma voz (de Graça) saía projetada das vísceras. Um final com um corte seco e inesperado. “Sempre que a partida vier”, é o segundo single do álbum e foi a única música de ‘adeus’ que teve apresentações. Feixes de luz ténue direcionados sobre cada músico, numa expurga individualizada, em que cada um se fundia com o seu próprio instrumento. O violino em loop que, em ritmo de aceleração, juntava agora as sonoridades num exorcismo coletivo, era “Marcha sobre Marte” do anterior disco ‘Umbra’. Mas como a música de Indignu tem a generosidade de nos dar a liberdade de projetarmos o nosso imaginário, esta “Marcha” poderia estar agora nos destroços de Mariupol. Pela enorme intensidade rítmica, e pelo arrastar nostálgico que nos faz mergulhar em cenários de catástrofe.

Uma última música com sonoridades mais roqueiras e no encore, uma “brincadeira” preparada por Graça Carvalho e Afonso Dorido. ‘adeus’ é definitivamente uma viragem nos Indignu, som mais eclético e talvez menos darkness, e agora com o cunho da norte-americana A Thousand Arms. Mas experienciar esta banda ao vivo é tão revigorante quanto libertador. Pós-rock reencarnado numa apoteose de Fado, de Jazz, de Metal, até Bossa Nova lá está! Mas tudo com a dose certa, milimetricamente medido e requintadamente trabalhado.

Foi bom terminar 2022 com ‘adeus’.

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