No próximo sábado à noite os jovens britânicos Shame passam por Lisboa, mais concretamente pelo Lisboa Ao Vivo, para apresentar em palco o novíssimo “Food For Worms”, terceiro longa duração, editado no passado mês de Fevereiro, novamente pela chancela da Dead Oceans.
O título deste pequeno teaser foi difícil de encontrar na minha cabeça, possivelmente pela falta de prática de fazer estas coisas nos últimos 4 anos. Acabei por o encontrar na primeira faixa de “Drunk Tank Pink”, “Alphabet”, e para mim sintetiza, de forma mais ou menos correcta a minha ideia dos Shame.
Os Shame que no início de 2018, editaram “Songs of Praise” despertaram de imediato a atenção dos ouvidos mais atentos, embora já desde 2016 viessem a mostrar os singles “Gold Hole”, “The Lick”, “Tasteless” e “Concrete”, (estas duas últimas ouvi em loop quase até à náusea) que viriam a compor boa parte de “Songs Praise”. É um interesse que tem vindo a crescer em ritmo consistente, embora não de forma totalmente consensual. Devo dizer que fiquei surpreendida com o lançamento de “Drunk Tank Pink” no início de 2021, em plena pandemia. Depois daqueles três anos a ouvir “Songs Of Praise” esperava outra coisa, mas viciei-me quase imediatamente em “Alphabet”. Em retrospectiva aquele álbum faz todo o sentido, no momento não foi exactamente assim. O lançamento de “Food For Worms” concretiza a primeira vez em nome próprio no nosso país, depois de já terem passado pelo Super Bock Super Rock em 2019 e por Paredes de Coura em 2022. Pelo meio lançaram também o EP “Born In Luton” e o “Live in The Flesh” que capta bastante bem o que se espera deles ao vivo, uma atmosfera vibrante e incendiária. Interessante no meio de tudo isto encontrar uma versão de “Rock Lobster” dos famigerados B’52s.
Para aqueles que ainda se possam encontrar algo indecisos quanto ao concerto de dia 18 sugerimos o visionamento de alguns vídeos das performances ao vivo por forma a tirar teimas, pois é mesmo ao vivo que vale a pena fazê-lo:
Estes cinco ingleses oriundos de Londres, donos de um sentido de humor bastante elevado, primam pela frescura com que criticam tudo, e até a si próprios sem qualquer pudor das suas raízes, o que se pode ver por exemplo, na escolha do nome do primeiro álbum onde, segundo li algures, se foram “inspirar” no nome de um programa da BBC cuja descrição que figura sobre o mesmo é a seguinte: – Songs of Praise Inspiring hymns and songs, together with uplifting stories of faith from around the UK and beyond. Curioso no mínimo.
Pessoalmente gostaria muito de os ter visto nas outras tours, principalmente a primeira, para ouvir quase na íntegra “Songs of Praise” disco recheado de canções cruas e orelhudas, pois é de facto o disco com que mais identifico, mas a realidade é que “Drunk Tank Pink” é um disco que faz todo o sentido pelas circunstâncias em que foi criado no meio de um confinamento mundial e que esteve muito restringido no momento imediato ao seu lançamento não podendo logo ser apresentado ao vivo. Mais negro e muito mais denso que o antecessor, reflecte o momento e a incerteza mas também a maturidade a que se viram de repente obrigados. Nem todos os meios de comunicação receberam este segundo registo da mesma forma que haviam recebido o primeiro, mas essa coisa de as bandas manterem o mesmo registo por décadas, seja por medo de perder público, ou de arriscar ou mesmo de se reinventar deveria nem existir.
“Food For Worms” já foi mais consensual em algumas coisas, mas eu sou um pouco do contra e gosto de bandas que se reinventam mesmo que não seja na direcção que eu esperava ou gostaria. Agora é ver ao vivo e a cores. Acho que só um grande revés os levará a desiludir a audiência que, espero eu, seja farta e esteja cheia de energia.
E depois da descarga de energia que se espera no sábado à noite, onde vamos todos a seguir?
Fotografia (capa) – Jorge Buco