A banda norte-americana de Brooklyn (Nova Iorque) os Big Thief, esteve no sábado passado em Lisboa e apresentou na sala 2 do Lisboa ao Vivo (LAV) o seu quinto álbum de originais, Dragon New Warm Mountain I Believe in You. A banda que tem marcado a bom ritmo a cena indie-rock americana (diria mesmo mundial), está a encher salas pela europa desde o inicio do mês e em Lisboa não foi excepção. Depois dos êxitos de U.F.O.F. e Two Hands, ambos os álbuns editados em 2019 (apresentação em Portugal em fevereiro de 2020), o quarteto de Adrienne Lanke & friends mostrou que em 3 anos, mesmo com a paragem obrigatória da pandemia, cresceu em estúdio e em palco de uma forma brilhante. Não fosse Dragon New Warm Mountain I Believe in You composto por 20 temas e gravado em 4 locais diferentes dos estados unidos. Os temas “Litlle things” e “Sparrow” foram produzidos por James Krivchenia (baterista). A própria Adrienne (voz e guitarra) que no inicio de 2020 assumia em palco uma fragilidade artistíca (o esquecimento de letras ou afinação compulsiva da guitarra, por exemplo) e partilhava em entrevistas uma certa insegurança na própria composição, hoje revela-se uma artista inteira “mais destemida na sua escrita (…) mais confiante e menos preocupada” naquilo que as pessoas poderão dizer. As cordas das guitarras, porque foram muitas as trocas durante o concerto, não têm segredos e quando lhes chegam às mãos já estão afinadas!
Um crescimento musical e performativo que não lhes tirou a simplicidade caracteristica da banda, tão pura quanto bonita. Fizeram assim questão de serem os próprios a entrarem em palco com o convidado e apresentarem Lutalo ao público, o multinstrumentista que os acompanha nesta tour e que apresentou o seu EP de estreia Once Now, Then Again. Entre a guitarra e a bateria, o norte-americano Lutalo foi perdendo a timidez e ganhando presença ao longo dos 45 minutos de atuação.
Passava das 22h30m e a sala, praticamente esgotada começou com um burburinho de agitação e impaciência, pois meia hora de intervalo seria o suficiente. Percebemos que haveria um problema técnico com o pedal da guitarra de Buck MeeK e demorou a ser solucionado. Faltava muito pouco para bater as 23h quando aparentemente tudo já estaria resolvido. Finalmente Adrianne Lenker, Buck Meek, Max Oleartchik (baixo) e James Krivchenia (bateria) entram em palco com uma postura de quem estava decidido a compensar o tempo de espera e dar pressa às guitarras! As três primeiras músicas, ainda com alguns ajustes de som nas entradas dos micros, principalmente no da voz de Adrianne que estava demasiado baixo. Mas o tema “Shoulders” de Two Hands fez se ouvir numa voz cheia e determinada, diferente daquela que ouvimos em 2020.
Os temas do último albúm estiveram mais concentrados na 2ª parte da atuação, mas todos eles com a colaboração efusiva dos fãs que se agitavam nas primeiras filas. “Not” (Two Hands, 2019) foi das melhores prestações de Adrianne, arrancando das cordas da guitarra a melhor distorção (provocada) que acompanhava com o arranhar da voz que subia uma nota “Not beginning/Not the crowd/Not winning/Not the planet/Not spinning/Not a rouse/Not heat/Not the fire lapping up the creek“.
Em praticamente todas as músicas Adrianne trocava de guitarra, que ia(m) sendo cuidadosamente afinadas em cima do palco por alguém que teve a tarefa árdua de diminuir a sua preocupação ao longo da atuação. Tarefa cumprida na perfeição, tudo impecável! O concerto seguia quase sem paragens, e a um ritmo de profissionais de palco e de estrada (esta tour terá a duração de praticamente um ano!), onde se percebia a cumplicidade e diversão entre os músicos, principalmente entre Adrianne e Max Oleartchik (que usava um vestido comprido) e Krivchenia. Depois de “Certainty” falaram com o público pela primeira vez, com um simpático “You are beautiful!”. “Vampire empire” e “Born for Loving You”, onde foi mesmo uma declaração de amor lhe saiu quase de rajada do coração: “Cause I was born for loving with you / It’s just something I was made to do / Doesn’t matter what dreams come true / I was born for loving you”.
Uma saída e uma entrada repentinas, um único encore com todos em palco a tocar vários instrumentos e a acompanharem nos coros (Lutalo e o pessoal de som, etc.), uma festa de despedida com “Spud Infinity”. Pouco mais de duas horas intensas, mas com muito poucas palavras trocadas com o público o que pode revelar algum cansaço (em Barcelona parece que foi bem mais intimista). Os Big Thief estão mais crescidos, mais intensos musicalmente e com muito boas músicas, mas nesta noite poderiam ter sido um pouco mais ‘intensos’ emocionalmente e não foram.