O terceiro dia do Amplifest arranca na Beerfreaks Stage com Aeviterne. A banda de death metal oriunda de Nova Iorque não tem uma discografia extensa, mas nota-se que o seu único LP lançado em 2022, The Ailing Facade, foi cuidadosamente escrito e trabalhado. Com blast beats venenosas aliadas aos riffs poderosos e por vezes atmosféricos, o conjunto americano proporcionou um excelente concerto de abertura deste último dia.
David Eugene Edwards regressa a Portugal num registo em nome próprio. O líder de 16 Horsepower e dos mais conhecidos Wovenhand veio apresentar em primeira mão o seu novo álbum, que seria lançado na semana seguinte ao festival. Projeções de natureza simulam uma na tela da Bürostage uma espécie de viagem pela floresta, que harmoniza perfeitamente com o Folk Americano pelo qual David é conhecido. Para além das músicas novas, houve ainda tempo para um par de covers dos seus outros grupos, com destaque para All Your Waves de Wovenhand.
De seguida, na Beerfreaks Stage, presenciámos o concerto de Hilary Woods. Acompanhada em palco pelo baterista de ascendência portuguesa Gabriel Ferrandini assistimos a um espetáculo muito intimista, com a voz melódica de Hillary a ecoar pela sala, com sintetizadores delicados de fundo.
O duo Divide and Dissolve tomou de assalto com o seu poderoso Doom instrumental uma Bürostage já muito bem composta. As australianas usam a música como uma plataforma de protesto e sensibilização sobre os problemas resultantes do colonialismo e a soberania que ainda existe sobre os povos indígenas. A guitarrista Takiaya discursou durante breves momentos sobre estes temas, para depois voltar a vibrar os alicerces do Hard Club com os seus riffs cheios pesados, mas sempre com um sorriso contagiante de orelha a orelha.
Os britânicos Esben and the Witch regressam mais uma vez a terras portuguesas. Apesar de já terem atuado em festivais como o Reverence e até mesmo no Hard Club em nome próprio, estreiam o seu rock alternativo no Amplifest. Trouxeram consigo uma setlist que se afasta dos registros mais eletrônicos do início da carreira. Serviu também como apresentação ao público do álbum Hold Sacred, lançado no início do ano, mas não poderiam faltar também músicas bem mais conhecidas como a No Dog ou a Dig Your Finger in, do na altura muito bem recebido A New Nature.
E por falar em regressos, 11 anos depois temos novamente Ken Mode a actuar no Hard Club. São mais uma das bandas deste festival que se apresenta com um álbum fresquíssimo, neste caso lançado 2 dias antes do concerto. VOID já era uma constante nas conversas entre concertos. Um álbum agressivo que segue a linha de escrita dos canadianos. E agressividade foi o que se viu em palco. Doses brutas de mathcore, com riffs dissonantes e violentos, a revelar também fortes influências de Sludge e post-hardcore, solos de saxofone e uma percussão bastante proeminente. Toda esta combinação, aliada a uma performance vocal irrepreensível de Jesse Matthewson, resultou num mosh pit que ocupava uma boa parte da Bürostage.
Depois de na véspera terem actuado na ZDB, os Hide vieram á Beerfreaks Stage mostrar como se quebram as barreiras da música electrónica. O duo de Chicago aliou os samples aos vocais crus numa performance que se pode descrever como uma destruição minimalista.
Ainda não eram 23 horas quando o público se começou a reunir numa Bürostage que progressivamente ia enchendo a um ritmo considerável. Estava quase a chegar a hora dos míticos Sunn O))) subirem ao palco. E para muitos, foi a primeira vez que puderam assistir a este duo de Seattle, pois são muito raras as visitas ao nosso país. Assim que a audiência dava os primeiros passos à entrada da sala, era inevitável não comentar a montanha de amplificadores que se vislumbrava em palco. Não é errado se dizer que Sunn O))) são os precursores do Drone. Mas mesmo que assim não seja, serão certamente o nome mais reconhecido do género. E o que estes gigantes fazem em palco, é muito mais que apenas um concerto. Sunn O))) proporciona uma autêntica experiência, tanto sonora, como visual, que mais nenhuma banda consegue oferecer. Sala às escuras.À frente do palco, uma parede feita com fumo e luzes vindas do chão. Atrás da banda, três círculos que iam iluminando subtilmente a sala a um ritmo lento. Os acordes das guitarras, também eles lentos e espaçados, mostravam diversas nuances de feedback e reverb e faziam vibrar as entranhas de quem assistia. Greg Anderson e Stephen O’Malley, com os seus robes pretos, apareciam por vezes no meio fumo, como se fossem dois druidas no meio de um ritual na floresta. No final, a aclamação da banda com todos os presentes de braços levantados em direção ao palco. Durante duas horas, Sunn O))) foi uma verdadeira experiência que cada um viveu de forma diferente.