André Henriques, que todos conhecemos de Linda Martini, assume a solo um papel mais cru, mais próximo de nós, e mais “despido” de si. Mais desprotegido talvez, mas é também isso que nos encanta. Liberta-se do estigma de ser o vocalista de umas bandas portuguesas mais aclamadas dos últimos 20 anos, e entrega-se de corpo e alma para partilhar connosco canções da sua exclusiva autoria. Já o tinha feito com “Cajarana” (em 2020) , e repete agora com “Leveza”, onde sentimos que, mais que no seu primeiro álbum, nos priveligia como seus confidentes. Fala-nos sobre oportunidades que não se podem desperdicar, pequenos traumas ainda por resolver, coisas banais do dia a dia, das dificuldades em levantar muros, e da leveza com que a vida passa no nosso mais intimo estar.
Na passada 4ªfeira no Teatro Maria Matos sentimos tudo isto, como seus confidentes, falou-nos desde à oportunidade inusitada em escrever uma canção tendo como pretexto um projeto de vida pessoal como é a construção de uma nova casa, aos desafios constantes da vida em segurar esses muros em torno de uma familia feliz. Deixou-se levar por essa emoção, e quase discretamente, escondeu-se nas luzes mais baixas do palco para recuperar o fôlego e voltar a cantar. Foi tão terno como admirador sentir o André tão perto, ser também um de nós, que tem a garra para avançar contra desafios gigantes, que também é frágil, que passa pelas coisas mais vulgares da vida como ir comprar cimento espanhol sem que soubesse o que isso é, e que como todos, necessita que todos os seus pilares mais próximos estejam sólidos que nem uma rocha.