Na última sexta-feira à noite o Musicbox Lisboa encheu para saudar o regresso dos Zen aos palcos lisboetas. Uma casa cheia de gente que quase no virar do milénio se havia agitado com “The Privilege of Making The Wrong Choise” encheu a casa numa noite prometia um mergulho profundo numa história que já dura há um quarto de século. Mas este burburinho ensurdecedor começou no final de 2018 com a reedição do há muito esgotado “The Privilege of Making The Wrong Choise”, considerado por muitos melómanos um marco na música nacional dos anos 90 na senda de outros tantos que chegaram ao grande público mais ou menos na mesma altura, como os Ornatos Violeta, os Blasted Mechanism ou mesmo os Turbo Junkie.
Em 2019, talvez à boleia do revitalizar de algumas outras bandas que à semelhança destes também haviam sido marcos da geração dos 90’s fizeram algumas datas, e na esteira dessa mesma reedição, regressaram aos palcos mas o caminho viria a ser abruptamente interrompido, como tudo o resto, em 2020. 5 anos depois e fazendo dos 25 anos do disco uma desculpa para tudo o resto os Zen apresentaram-se novamente com datas de norte a sul e chegam a Lisboa depois de já terem esgotado o Hard Club em Novembro passado neste regresso fulgurante.
Quase voltar a ter a formação original em palco, era o que apenas seria necessário para as coisas correrem de feição, falamos mais concretamente da materialização corpórea das letras dos Zen, na pessoa de Rui Silva, que saíra após o primeiro disco e sendo talvez essa uma das razões para que “Rules, Jewels, Fools” passasse tão fora do radar em 2004.
Toda a aura dos Zen a entrar em palco é de notória provocação, desafio, atrevimento. Ali, naquele momento, as regras não se aplicam. Vale tudo. Tanto é que, aos primeiros acordes, temos pelo menos o primeiro terço da repleta sala do Music Box em êxtase e a cantar a plenos pulmões. Por isso é que as regras não se aplicam ali, naquele momento que é agora 2024, mas podia muito bem ser 1998. À terceira música já estávamos na fase de stage diving e a noite seguiu sempre assim, com a banda a puxar sempre mais e mais pelo público que apesar de acusar a idade, muito mais que a banda, não se deixou ficar e parecia que iria seguir os Zen até ao fim do mundo.
Para muitos, e para a história, fica uma noite onde se cantaram em uníssono e a plenos pulmões novamente “Not Gonna Give Up”, “U.N.L.O”., “Redog” ou “11:00 A.M.” como não se cantava desde o milénio passado. A passagem anterior por Lisboa em 2019 não teve todo este fulgor, portanto poderá considerar-se como uma falsa partida, morta quase à nascença pelo malfadado 2020, mas, e agora esta nova vida dos Zen, que fazer com ela? Será mesmo como os Zen dizem no seu manifesto? “Evocamos a música como um caos organizado, onde os extremos atraem os opostos, sem negativismos, nem palavras de ordem. Este regresso em definitivo é uma boa oportunidade para todos perceberem porque não desistimos. Este é o nosso Manifesto.”
Posto isto e agora que parece ter sido atingido o ponto de rebuçado (podem confirmar com a playlist ali abaixo), a pergunta impõe-se: O que está para vir?