A nostalgia pode ser um estado melancólico. A melancolia pode estar ligada à saudade. Tanto a nostalgia como a melancolia podem ser tristes. Ou, também, podem mostrar-nos o outro lado da moeda. Aquele que nos revela que um momento especial existiu e que pudemos vivê-lo e que foi tão especial ao ponto de permanecer dentro de nós, vindo à tona com algo que a ele está associado, como uma música. É, também, benéfica a existência da nostalgia! Não só nos faz sentir vivos e seres sencientes, como faz uma banda viver eternamente, pelo menos dentro de nós. Ver um concerto carregado de músicas que fizeram parte da banda sonora de uma parte da nossa vida é um privilégio tremendo!
Efectivamente, os GNR são uma daquelas bandas que ainda ouço aos dias de hoje com um sorriso nos lábios. Que canto e que me enchem a alma em concerto. Não é por estarem carregadinhos de nostalgia, mas porque são, efectivamente bons, o que prova que cresceram e amadureçam e que, ao contrário do que apregoam, vale sempre a pena crescer!
A noite de 23 de Fevereiro apareceu chuvosa e fria, mas não foi isso que afastou as centenas de pessoas que encheram o salão Preto e Prata do Casino Estoril para ver GNR.
Antes e durante cerca de meia hora o palco foi do trio Triplo Salto que estava a apresentar o seu primeiro disco de rock cantado em português.
Eram 22h e uma televisão na tela mostrava uma montagem de concertos antigos de GNR acompanhada de uma introdução que abraçava aquela época em perfeita harmonia.
Depois, aquela voz tão única e especial de Rui Reininho brinda-nos para dar início ao desfile de hits de pop solarenga com composições de rock e aquele cheiro a perversão e libertinagem que se viveu nos loucos anos 80.
“Vídeo Maria”, “Mais Vale Nunca”, “Sub-16”, “Asas” e “Pronúncia do Norte” vieram de rojo para elevar os ânimos e deixar a plateia a dançar com um sorriso nos lábios. “Eu Não Sou Assim”, canção nova também teve lugar, tal como “Cadeira Electrica” do último disco e toda uma revisitação pela discografia da banda. Banda essa que, apesar de não ser a original, não fica atrás e até dá um toque mais elaborado às composições. Seja nos sintetizadores, seja nas cordas ou no piano. Até Rui, vai aprimorando as letras, como já é habitual.
Habitual é também aquele seu humor negro e audaz que marca sempre presença do princípio ao fim, tal como a sua performance de entrega total.
A recta final foi guiada com “Morte ao Sol”, “Efectivamente” e “Las Vegas” tendo ainda espaço para dois encores, terminando com “Dunas”.
A última vez que vi GNR foi na celebração dos 35 anos, no Campo Pequeno e, a verdade, é que o seu crescimento não é só na idade, mas instrumentalmente. Não os sinto monótonos nem cansados ou sem vontade de crescer! E, que assim continuem por muitos mais anos. A desenterrar memórias e a criá-las!