Noite de domingo, noite de clássico no futebol, mas nada disso intimidou quem se deslocou ao Lisboa ao Vivo com casa cheia para homenagear os vencedores da noite – The Pineapple Thief! O espetáculo, com início marcado para as 20h30 e abertura de Randy McStine, prometia uma noite memorável. Às 20h15, ainda se via uma fila extensa à porta, enquanto no interior a sala já fervilhava de entusiasmo, marcando a estreia da banda britânica em solo português. A espera, embora longa, revelou-se insignificante perante a experiência única que se desenrolou, alimentando a esperança de um rápido regresso.
Com a pontualidade britânica, Randy McStine subiu ao palco munido da sua guitarra e loop station, entrelaçando as suas canções e colaborações com mestria, aquecendo a audiência com uma voz potente e vibrante. O seu último disco, Unintentional, foi lançado em Dezembro de 2023 e o artista americano conta já com 12 lançamentos na plataforma bandcamp. A sua simpatia e a sua disponibilidade para interagir com o público e vender o seu próprio merchandising deixou-nos cativados. Terminada a sua bela actuação, era palpável a expectativa crescente para os The Pineapple Thief.
Bruce Soord, vocalista e guitarrista, iniciou o projecto há já 25 anos atrás, tornando a banda numa das referências de rock progressivo internacionais. Acompanhado por Jon Skyes há mais de duas décadas no baixo, a formação actual conta também como membros fixos Steve Kitch nos teclados e Gavin Harrison na bateria, este último reconhecido também pelos Porcupine Tree (banda que tive o prazer de ver no Incrível Almadense em 2008!). Ao vivo, a banda tem-se feito acompanhar de Beren Matthews na guitarra e voz, tendo também contribuído com as mesmas em algumas partes nas gravações do último It Leads to This.
O quinteto sobe ao palco perante um público já efusivo, demonstrando já a sua expectativa.. Mesmo com expectativas elevadas, bastou o primeiro tema, “The Frost”, para rapidamente superá-las. A magia dos discos transformou-se em energia visceral ao vivo. A sinergia entre os músicos criou uma atmosfera libertadora, projetando ao mesmo tempo uma ligação crescente com a plateia que não hesitou em expressar o seu fervor.
O alinhamento da noite levou-nos por uma viagem de emoções fortes. Em canções como “Our Mire”, “Version of the Truth”, ou “Rubicon”, mas também como tema geral do concerto, testemunhámos o talento conquistador da banda, com uma bateria comandante, teclado envolvente, baixo dançante e pulsante, guitarras cavalgantes e a voz liderante de Bruce Soord irrepreensível. A performance da banda, a dança entre os elementos, os momentos mais calmos alternados com momentos explosivos, os solos mais vibrantes de Beren Matthews a complementarem a personalidade da banda, tornou toda a experiência catártica.
Para além de temas do último disco e de Version of Truth, a banda tocou ainda dois temas de Give it Back (uma colecção de temas anteriores agora regravados também com as contribuições poderosas de Gavin Harrison) e “The Final Thing on My Mind”, do disco The Wilderness, que encerrou o set principal. Este último tema é um dos meus preferidos da banda e foi um privilégio vê-los a construir a narrativa com momentos sublimes e arrebatadores, e com uma carga emocional muito própria. Acredito que por esta altura a banda também já estava completamente rendida ao público português, o que tornou o momento muito genuíno.
Felizmente a espera para o encore foi curtinha, e a banda voltou com “In Exile” e “Alone at Sea”. Confesso que soube a pouco, mas apenas porque foi uma noite tão bonita. Para quem tem acompanhado a banda, penso que fica a curiosidade dos primeiros tempos ao vivo e a vontade de não ficar muitos mais anos sem os ver novamente. Guardo um respeito e admiração enormes por este projecto, pela sua evolução sonora e lírica, que também reflectem as várias fases de vida e de intimidade, o que permite a quem ouve poder libertar alguns dos seus próprios “Demons”. Resumindo, queremos mais.
NOTA DE REDAÇÃO: Um agradecimento especial ao fotógrafo Paulo Jorge Pereira, e à Metal Imperium, pela pronta disponibilidade em disponibilizar as fotografias presentes nesta reportagem.