Os irlandeses The Clockworks foram recebidos no passado sábado à noite num Music Box expectante e praticamente cheio para apresentar o álbum de estreia “Exit Strategy”, editado no final de 2023 pela sua própria editora Life and Time Recordings, estreia essa que teve a produção entusiasta de Bernard Butler, primeiramente conhecido como guitarrista dos Suede, mas que ao longo dos anos se tem vindo a notabilizar também por uma série extensa de outras colaborações, e citando assim de repente temos por exemplo os Pet Shop Boys, Tricky, Teleman ou The Libertines…
Mas, os The Clockworks não aterraram simplesmente em 2023. O primeiro single, Bills And Pills, viu a luz do dia em 2019. Nos três anos seguintes e até ao momento em que Exit Strategy sai finalmente já haviam sido partilhadas quase todas as músicas, por isso não é de estranhar que a audiência já trouxesse boa parte delas na ponta da língua. Algures no verão de 2023 o caminho dos 4 irlandeses de Galway cruzou-se com o caminho de Bernard Butler quando este os convidou para uma das Lock-in Series dos Abbey Road Studios onde gravaram “Mayday Mayday”, e a partir daí nasce a colaboração que irá trazer à luz Exit Strategy.
Exit Strategy conta a história de alguém que morando em Galway (Irlanda), se irá mudar para Londres em busca de algo que faça mais sentido, mas nessa busca se muda a si próprio numa tentativa de se enquadrar, sendo o lado A da edição física nomeado de Galway e o lado b respectivamente London. É uma narrativa com a qual a maioria dos jovens adultos facilmente se identificará, mas a audiência que compunha o Music Box, não era a mais esperada para este sub texto. Só que depois começamos a ouvir a música e a olhar para o palco e tudo aquilo nos é por demais familiar, é fácil perceber a casa cheia e entusiasmada. É como se tivessem ido ao caldeirão, principalmente do que vai ali aqueles que precederam a chamada vaga da britpop do meio dos anos 80 até ali…sei lá…meio dos anos 2000?? Agarrassem num pouco de tudo, juntassem mais umas coisas que coexistiram também ali por aquela altura e misturassem; Oasis, Suede, Stone Roses, Primal Scream, Artic Monkeys, Pulp… e não me vou alongar mais, porque podemos meter aqui muito mais coisas.
Conseguimos identificar claramente uma série de coisas ali pelo meio, superficialmente mas em grande número e diversidade o que fará com que seja fácil para que quem viveu também esses momentos há mais de duas décadas atrás se sinta confortável no meio da turba.
Não existem aqui novidades. Há frescura e garra sim, alguma audácia por querer chegar a tanto sitio diverso com sucesso, mas será que depois de tocarem em tantos pontos tão diversos conseguem fazer disso novidade? Tem certamente uma visão muito mais mundana do que aqueles que os precedem nestas andanças e apesar de serem bastante jovens tem uma ideia muito concreta do que apresentam. Não são apenas musicas, não é apenas um disco, é uma história, uma visão ou ponto de vista de um acontecimento muito singular numa vida, para o qual os The Clockworks elaboraram uma intrincada banda sonora.
A apresentação da banda ao vivo tem de tudo, (ide ouvir a playlist ali no fim do texto): momentos intimistas, momentos de incitação, momentos para cantar a plenos pulmões, para explodir a raiva, para expurgar os demónios, para agregar multidões, para fazer a festa extrapolar o palco e a pista. No meu caso no entanto qualquer coisa de demasiado sistematizada impediu a minha conexão com a banda, uma falta de algum caos, quando o que relatam é um caos para qualquer um. Dou o beneficio da dúvida, (como se isso interessasse realmente a vivalma), se voltarem, também volto a ir, mas espero que tragam mais caos dentro deles e o libertem sem medo, porque os the Clockworks têm caos dentro deles.