Sexta-feira, dia 26 no Cais do Sodré, os MAQUINA subiram ao palco para mais uma noite dança, porque é isso que eles fazem. Um concerto que na verdade é uma pista de dança, e mais que isso uma celebração de liberdade. Liberdade e procura de felicidade porque aqui, dançar é definitivamente uma forma de alcançar a felicidade e como sempre ouvi dizer ” Quem dança seus males espanta!”
Podia dizer que um concerto de Máquina é impróprio para pessoas fotossensíveis, mas um concerto de Máquina pode levar-se todo ele de olhos fechados, porque se trata sobretudo de sentir. O som quente do baixo, puxado pela energia da bateria é rasgado pela distorção da guitarra, mas sem que isso alguma vez nos obrigue a sair do ritmo repetitivo e cheio que enche totalmente a frente do palco e abraça o resto do espaço. Basta olhar em redor e a meio da primeira música já se libertou uma quantidade de energia entre os corpos dançantes, que se possível de ser captada daria para uma aldeia. Não faço ideia se isso seria real possibilidade ou não mas a ideia faz-me sorrir, porque são concertos que se transformam em mais que isso.
A energia que emana da banda, a boa energia, é certamente um dos factores agregadores, porque o que vemos ali não é apenas pessoal que vai a concertos porque gosta de música. São pessoas que gostam de música, que gostam do que os Máquina estão a fazer e muitos amigos. A primeira parte da sala do Music Box estava cheia de amigos e conhecidos dos três. Parece a onda perfeita e eles estão a navegá-la perfeitamente. Recém regressados de uma tour europeia com os norte-americanos A Place To Burry Strangers e com músicas novas e frescas no novo álbum Silver editado pela Fuzz Club, a poucos dias de actuarem no festival da editora, onde são das bandas mais aguardadas, difícil seria que não estivessem tão em altas e isso passa completamente para quem os vê.
Ouvir “Dirty Tracks for Clubbing” (2023, Saliva Diva) ou Silver é óptimo e quem estiver neste modo de sentir (sim, os Máquina além de como os próprios dizem serem uma máquina de fazer dançar, também são uma máquina de sensações) sobretudo a música dos Máquina acontece mesmo é ao vivo. A quem interessar, têm no bandcamp o concerto de Paredes de Coura do ano passado, para o qual foram convidados para preencher a vaga deixada em aberto pelos The Last Dinner Party.
É dificílimo fugir a uma energia destas quando ainda pra mais se faz música que na sua gênese ou amago tem música de pista. No entanto naqueles momentos de maior escuridão que a sonoridade dos Máquina evoca, e quando tocam nesse extremo mais sombrio, ecoam em mim umas palavras que li sobre eles “Tem aromas de cave roqueira onde chove cerveja e do suor das paredes de betão numa rave sem hora para acabar. Cheira a perigo.” Assim, não é estranho que no meio de tanta energia incrível e feliz, a confusão que se gerou se tenha limitado a corpos que dançaram felizes durante 70 minutos. Porque na verdade não se limitou a isso. Senti perfeitamente aquele perigo porque quando o concerto terminou estava pronta para tudo e acho que não era a única.