No sábado à noite, coincidência ou não, no dia em que passaram 42 anos do falecimento de Bob Marley, a Lisboa Ao Vivo foi palco de uma celebração histórica do reggae com a presença dos icónicos The Gladiators e The Congos. Ímpar e possivelmente irrepetivel pela idade avançada de alguns que pisaram o palco nessa noite. Foi noite de celebração e felicidade pura para todos os fãs dos The Gladiators e dos The Congos que ali se encontraram.
Casa cheia e ao rubro desde o primeiro ao último minuto de ambos os concertos, onde se avistaram famílias com três gerações representadas, com um ambiente de invejável boa onda. Invejável mas completamente contagiante. Impossível não sorrir perante aquela multidão tão feliz!
Poucos minutos depois da hora marcada os primeiros acordes e vozes em palco ecoaram na sala já repleta e ansiosa. Gritos, assobios encheram ainda mais o espaço que naquele momento parecia já pequeno para tanta expectativa, de tal forma que o que quer que estivesse a ser dito vindo daquele palco era completamente imperceptível.
Os The Gladiators, banda, que começou sua jornada musical em 1967, trouxeram a Lisboa um espetáculo que foi muito além de uma simples apresentação musical; foi uma viagem pelas raízes do reggae e uma homenagem à luta pela liberdade.
A voz de Albert Griffiths, embora ausente, foi honrada pelo seu filho Alan, que assumiu a liderança dos The Gladiators em 2005, com a mesma paixão e intensidade do pai. Levou o público consigo como se fossem unos com a banda, a clássicos como “Roots Natty” e “Jah Works”, que fizeram toda a plateia vibrar, dançar e cantar em uníssono a maior parte do concerto onde a banda cheia de um entusiasmo que mostra o quanto a sua música continua relevante e poderosa durante o concerto que durou cerca de 90 minutos e que o público teimava não deixar terminar, mesmo sabendo que de seguida teriam em palco os The Congos.
O intervalo entre as bandas não durou mais que 15 minutos, e nesse curto espaço de tempo toda a plateia se moveu em direção aos bares, aos wc’s, espaço exterior e novamente no sentido inverso.
Desde o momento em que as luzes se apagaram e os primeiros acordes ressoaram, sabíamos que estávamos prestes a testemunhar algo especial. A banda, mantendo sua formação original desde os anos 70, exibiu uma coesão e unidade que só podem ser forjadas pelo tempo e pela música compartilhada. Cada canção uma prece, cada batida um apelo à paz, ou seja, verdadeiras missas rastafári.
Cada faixa foi recebida com aplausos e cantos, como se cada membro da audiência estivesse a reviver as suas próprias memórias ligadas às músicas.
À medida que a noite avançava, a energia crescia e os The Congos provaram que não são apenas uma banda; eles são guardiões de uma tradição, portadores de uma mensagem que é tão relevante hoje como era quando começaram. Não tocaram apenas música; celebraram a vida, o amor e a resistência.
Quando as luzes se acenderam e os últimos acordes desapareceram no ar, ficou claro que aqueles que estiveram presentes no LAV naquela noite não assistiram só a um concerto; participaram de um ritual.