Sexta feira passada o demoníaco trio Máquina, a máquina que faz dançar salas cheias, a escorrer suor das paredes expandiu-se. Expandiu-se e chamou a si a Surma. Pelo menos era isso que anunciava o cartaz. Uma releitura/remistura ao vivo, em directo do que os Máquina fizeram em Prata editado há pouco mais de dois meses pela Fuzz Club.
Esta Máquina que tem feito salas cheias dançar pelo país e pela Europa parece agora lançar-se num novo espaço/tempo dessa mesma dança, criando oportunidades como a que assistimos nesta noite. Para Julho existe já outra data com um convidado que ainda não está anunciado.
A mim cheira-me a tubo de ensaio para coisas que a Fuzz Club, editora dos Máquina tem promovido quase desde o seu inicio: remisturas de bandas suas por outros bandas do catálogo e outros mais (oiçam por exemplo Vuelveteloca – Sonora Remix ou The Telescopes – Growing Eyes Becoming String Remixes, ou então a título de exemplo também mas não editado pela Fuzz Club neste caso, o álbum de remisturas dos A Place To Bury Strangers, com quem os Máquina estiveram em tour este inverno, Re-Pinned.
Ora então se a própria sonoridade dos Máquina por momentos, pelo menos em concerto, parece já entrar numa remistura de si própria sem mais qualquer adição, que poderíamos dizer quando se anuncia que adicionam Surma á equação? Eu sei o que disse; Tenho de ver/ouvir.
Por momentos pensei que este concerto inusitado e anunciado com pouca margem, e menos de dois meses depois dos mesmos Máquina terem apresentado “Prata” no mesmo espaço, caísse um pouco ao lado….Santos populares + concertos em vários espaços num curto espaço tempo. Mas não foi o que aconteceu. O Music Box voltou a encher para receber os Máquina, a legião de fãs e amigos vai crescendo a olhos vistos e não dá mostras de abrandar, porque os Máquina também não abrandam e esta releitura de Prata através da sensibilidade da Surma e com a participação de Duarte na precursão traz uma outra velocidade.
Suspenso sobre o palco a Prata que dá nome ao disco roda e reflete luz.
O alinhamento composto apenas pelas músicas de Prata, fez-se numa ordem diferente enquanto suspenso sobre o palco, essa mesma Prata rodava ao sabor do calor e do movimento dos corpos que não conseguem resistir ao ritmo quente que emana do palco. Inicialmente pensei que as músicas iriam adquirir, com a presença de Surma e de Duarte uma tonalidade ainda mais quente e envolvente, mas o que ouvi/senti foi o contrário disso. Uma exploração um pouco mais dura do que seria de esperar de uma remistura mas sem que se retirasse aquela componente de ritmo desenfreado e apaixonado do corpo, as guitarras tomaram mais protagonismo, talvez mesmo para poderem dar espaço a Surma.
O loop quente e infinito que se expandiu pela sala minuto a minuto, contagiou toda a plateia desde o inicio até ao último acorde, com declarações de amor infinito entre os intervenientes em palco.
Quando ecoaram os últimos acordes na sala quase se sentia a euforia que emanava dos corpos. É Com uma performance plena de combinação técnica, emoção e interação com o público os Máquina solidificaram ainda mais o seu lugar como uma das bandas mais interessantes e dinâmicas da cena musical actual. Para os presentes foi uma noite inesquecível; para aqueles que perderam, resta a expectativa do próximo encontro, no mesmo sitio daqui a 3 semanas, com esta potência musical arrebatadora de pistas.