Pode ser nostalgia, pode ser romantismo, pode ser, também, drama mas olhando bem à nossa volta e nesta era em que tudo é fast food, até a música, torna-se muito difícil manter e ver surgir novas bandas de culto, como aconteceu na era do analógico e na era em que o ser humano era mais humano que agora.
Não tirando o valor aos projetos recentes, que os há brilhantes, acredito que daqui a 40 anos não verei tours de 40 anos desses projetos.
15 anos passaram desde a última vez que pisaram o Coliseu dos Recreios e 5 desde a última em Portugal sendo a celebração dos 40 anos de carreira foi o mote para este regresso tão aguardado pelos fãs no passado dia 17 de Julho.
A primeira parte esteve a cargo da espanhola Lys Morke que em cerca de meia hora nos trouxe uma mistura de música ambient, experimental, darkwave e dark pop, acompanhada de uma voz imponente e poderosa que por vezes saía bastante distorcida. Com letras entre o inglês e o espanhol não se mostrou a escolha adequada à noite que era mas isso não justificou a primeira mostra da falta de respeito de um público que passou o concerto a falar, de tal forma que o volume teve de ser aumentado.
Passamos ao rock e à sua magia. Aquela que nos faz sentir vivos, nos deixa o coração acelerado e nos rasga um sorriso no rosto.
Após uma ambiência à la Noir Club e uma entrada de forma épica, os quatro assumem posições.
Os The Cult não precisam de provar nada a ninguém. Não sei se este nome foi escolhido com o intuito de ser uma banda de culto, mas a verdade é que são. Dos que cresceram com eles, dos góticos e, pura e simplesmente, do bom amante de rock. São 40 anos e muitos discos. Não conseguiram passar por todos para tentaram passar pelos mais emblemáticos, tendo enaltecido Sonic Temple e Love, ambos dos anos 80, década do seu nascimento.
A voz de Ian Astbury mantém-se robusta e sem sinais da idade. Tal como a energia que traz no corpo para estar em constante movimento com a sua pandeireta e os seus passos de dança. À terceira música, já não cantava sozinho “Wild Flower” serviu para acordar a plateia e deixá-la imparável até ao fim do concerto. A guitarra de Billy Duffy eximiamente bem trabalhada, proporcionou-nos grandes momentos de deleite auditivo. Sensivelmente a meio do concerto, houve tempo para o momento acústico com “Eddie (Ciao Baby)” para depois voltarem a ser elevados os ânimos com “Sweet Soul Sister”. Não parando de nos surpreender, Ian chama, na última música, uma pessoa do público para o acompanhar na pandeireta que depois lhe oferece, tendo oferecido mais algumas depois.
Cerca de uma hora e meia de concerto terminou com um encore com “Brother Wolf, Sister Moon” e “She Sells Sanctuary” e um enorme sentimento de satisfação.
Era notória a felicidade sentida em cima do palco e fora dele. A celebração de 40 anos de vida tem mesmo de ser assim. São muitas histórias, músicas, muitos palcos, alegrias e tristezas mas, acima de tudo, o contentamento de ter chegado ali.
O concerto terminou com o pedido de um regresso no ano que vem. Pedido mais que legítimo pois há quem viva do rock! Eles e nós!
Apontamento negativo para o público que, apesar de já ter idade para saber respeitar, provou que simplesmente não o sabe fazer. Não só pelo que aconteceu com Lys Morke, mas pelo excesso de tabaco (e não só) que se sentiu por toda a sala, tornando o ambiente bastante irrespirável durante a noite toda (que já estava abafado pelo calor). Estávamos numa sala de milhares que parecia uma cave para dezenas, tudo pela impaciência de esperar 2h para poder fumar!