Foi por pouco que os Quinteto Explosivo não levaram o ouro, mas, após tantos anos de ausência dos palcos portugueses, os Blind Guardian mostraram por que motivo foram a melhor banda do dia 3 e a grande vencedora do Vagos Metal Fest 2024 se tivermos em conta o número de bilhetes vendidos para o dia 3 em particular.
BLACK HILL COVE
O último dia do Vagos Metal Fest iniciou com os Black Hill Cove, quarteto nacional composto por 4 veteranos de décadas da música pesada. Foi uma aposta super coesa tendo em conta a prestação e vitalidade dentro do power/thrash/groove metal que ajudou a iniciar o dia da melhor forma.
GROG
E se a banda anterior incidiu no groove, os lendários Grog optaram por não variar e meteram sal grosso numa ferida aberta e temperaram-na com gasolina e um fósforo aceso. Ao segundo tema, Pedro “Pedra” anuncia “Hanged By The Cojones” e, daí em diante, o palco foi pequeno para interiorizarmos concretamente o que é que se estava a passar, mas cremos que esteve relacionado com o trabalho de pé de Rolando Barros. E de mãos. E de tronco. E de tudo o mais por trás do couraçado rítmico do baterista. Finalmente, os Grog pisaram o palco nobre de Vagos e só enriqueceram o historial do festival com a sua presença. Vagos muito lhes agradeceu.
GWYDION
Porque Vagos é sinónimo de variedade e ecletismo, os Gwydion tocaram entre duas bandas de metal extremo e meteram um sorriso nos lábios do público mais dado à dança e ao carpe diem. Melodia, catchiness e temas pagãos são os três pontos cardeais abaixo do Norte dos Gwydion. Do Norte para cima, e passe o pleonasmo, é sempre a subir.
SUFFOCATION
Vagos tem algumas problemas impossíveis de combater, como é o caso da poeira que, durante 3 dias, afectou as gargantas de tantos festivaleiros. Felizmente, não há nada melhor para a tosse do que os Suffocation ainda a promoverem “Hymns From The Apocrypha”, de Novembro de 2023. Aos acordes iniciais de “Seraphim Enslavement” a frente do palco do Vagos Metal Fest tornou-se numa batalha campal presidida pelo vocalista Ricky Myers, digníssimo sucessor do lendário Frank Mullen. Em poucas palavras, os nova-iorquinos foram uns dos principais arquitectos iniciais do death metal, mas não se deixaram repousar à sombra de discos como “Effigy Of The Forgotten” e, ao longo dos anos, foram fundamentais para o desenvolvimentos do death metal técnico e do slam death metal. “Jesus Wept”, “Pierced From Within” e a seminal “Infecting the Crypts” foram apenas alguns dos clássicos maiores que ecoaram em Vagos. Som cristalino uma vez mais, o que só beneficiou a banda, o público e o festival. Impossível de ficarmos indiferentes a tamanha descarga sónica.
PRIMORDIAL
E da terra da neblina e do orvalho chegaram os sempre bem-vindos Primordial. Os irlandeses têm a particularidade de terem uma vasta cultura milenar do seu lado, trilhando caminhos como o black metal pagão, épico, com nítidas influências celtas, algo fresco, original. Repetentes do Vagos Metal Fest, são motivo de conversa devido ao seu som e imagem distinta, quase medieval, o que lhes confere uma aura própria e uma necessidade de se afirmarem como insulares (e porque insulares) que são. Bom desempenho, ainda que longe de épico.
BLIND GUARDIAN
Claramente A BANDA QUE TODA A GENTE QUERIA VER, os Blind Guardian encerraram o Vagos Metal Fest 2024 da melhor forma possível, ou seja, com lotação esgotada. Ainda quem não tenhamos consultado a organização nesse sentido, não nos recordamos de um Vagos Metal Fest com lotação esgotada, mas, perante um dos colectivos (se não mesmo O COLECTIVO) mais importantes do power metal épico/sinfónico, seria apenas uma questão de saber quando iriam esgotar os bilhetes. Os prodígios alemães sempre basearam os seus discos em redor do rico imaginário de J. R. R. Tolkien e do épico “O Senhor dos Anéis”, mas, inicialmente, talvez virtude da juventude, optaram por um som mais rápido e agressivo, com o qual abriram o concerto. Com o tempo, moldaram-no para aquilo que conhecemos actualmente e o resultado está à vista. Foram quase 2 horas de clássicos com direito a encore e público a trautear letras e a voar para dentro do fosse em vagas e em Vagos. O final ficou a cargo clássico triunvirato “Sacred Worlds”, “Valhalla” e “Mirror Mirror”. Jogada de mestre da parte da organização, desafio vencido e até já cheira a 2025.
QUINTETO EXPLOSIVO
Após o concerto dos Blind Guardian, houve ainda tempo para o poder local poder aparecer e dizer que foi responsável pelo sucesso do Vagos Metal Fest e não sei quê, nitidamente depois de o conclave da esquerdalha que foi o último executivo ter sido afastado do governo pelo Dr. Nuno Melo e pelo blogue Observador, no MySpace. Assim, o dirigente local do CDS/PP, o Dr. Jovem Conservador de Direita, subiu, acompanhado pelo seu fiel estagiário, vulgo O Estagiário do Doutor, ao principal palanque da demografia jovem ou nem tanto do centro-norte para apelar ao consumo desenfreado junto das bancas concessionárias de comida, bebida e merchandise do Vagos Metal Fest. Ciente da importância do represent junto dos festivaleiros, o mais do que provável primeiro ministro e subsequentemente Presidente da República contratou um conjunto de zés pereiras anónimos, os Quinteto Expulsivo, para a arruada que se seguiu e para dar a ideia de que percebe de metal e de outras cenas de jovens marginais. Marginais, sim, mas consumidores e eleitores. Dessa feita, o Dr. vestiu o conjunto musical académico com roupagem vermelha-sangue para que, como o Dr. confidenciou em exclusivo à Música em DX, “o eleitorado jovem marginal consuma, sim, mas sem nunca esquecer o sangue derramado no holodromorodoror”, pelo que entendemos. O dito colectivo interpretou canções de além-mar, com destaque para um medley de música autóctone brasileira (“AIDS, Pop, Repression” e “Territory”) e outros clássicos menores oriundos de diversas e distantes paragens. Fecharam um sarau cultural popular de forma grave e séria, brutalista e autoritária, mas, por essa altura, só estariam 7 pessoas a vê-los e as restantes 8000 a consumirem nas ditas bancas concessionárias como se não houvesse Vagos Metal Fest no dia seguinte. E fizeram bem, pois não houve mesmo.
© Sónia Ferreira / World Of Metal
