Eu sei, a escolha do título para esta crónica é um clichê em si mesmo. No entanto, a banda de Ronny Moorings esgotou tanto o Hard Club na noite anterior no Porto como o RCA Club em Lisboa nesta noite de 14 de Setembro. Um feito que demonstra a apetência de um público em geral fiel a este género de som, e uma aposta ganha pela promotora At The Rollercoaster.
Com o anúncio antecipado de que as portas iriam abrir mais cedo do que inicialmente previsto, e o início do espectáculo seria ligeiramente antecipado para as 21 horas para que a banda pudesse oferecer a todos um concerto mais prolongado, compensando assim talvez o longo hiato de actuações dos Clan Of Xymox em Portugal, aproximadamente 10 anos sem cá actuarem? Tenho a dizer que a noite correu de uma maneira perfeita. Aviso que não sou um freguês fácil neste tipo de coisas, mas a verdade é que a noite correu mesmo de uma maneira singularmente perfeita. Quanto a mim, ao contrário provavelmente de muitos dos presentes que já teriam assistido a concertos deste banda, eu já estava prestes a juntar os Clan Of Xymox à gaveta das bandas que dancei vezes sem conta ao som dos seus clássicos, mas que, por uma razão ou outra nunca consegui ir ver ao vivo. Ao escrever estas linhas de texto lembro-me da única vez em que me cruzei com Ronnie Moorings, na década passada, aquando do evento de Ronnie ter estado a passar música como DJ numa noite especial, no agora defunto Metropolis Club.
Quem nunca dançou, a propósito, ao som de canções como por exemplo “A Day” ou “Jasmine & Rose” numa qualquer festa gótica new wave? Alguns milhões de portugueses certamente que não o fizeram, digo com ironia, mas alguns milhares certamente o fizeram com gosto, e são algumas dessas pessoas que aqui estão e esgotaram estes dois concertos em Portugal.
Há muito pouco a dizer de um concerto que decorre de maneira perfeita, com a banda em perfeita comunhão com sua audiência e vice-versa. O concerto iniciou-se com a intro “Vince”, os músicos arrancaram com a primeira canção da noite “Love Got Lost” do álbum de 2009 ´In Love We Trust`, seguindo-se “X-odus”, canção do novo disco de 2024 ´Exodus`.
Por esta altura, os mais fiéis da banda já teriam reparado que a baixista Mojca Zugna não estava presente, tendo por isso este concerto contado com os préstimos de Mario Usai no baixo e não na guitarra, apresentando-se assim a banda em formato quarteto como por vezes é habitual.
Também por esta altura, a tal comunhão imediata entre a banda e a sua audiência se tinha instalado. É uma soma de factores, a presença simpática e comunicativa de Ronny, a sua disponibilidade para entre canções falar com a audiência e apresentar cada canção seja com um gracejo ou com uma história. O som muito equilibrado que é debitado no PA ao longo da interpretação das canções com a voz a assumir um papel preponderante com bonitas ambiências e ecos sendo complementada a voz e guitarra de Moorings , pelas teclas e sintetizadores de Sean Göbel, pelo baixo de Mario Usai, com Daniel Hoffmann a coordenar as partes pré-sequenciadas. Após o ritmado “Your kiss”, de um passado recente ( 2017) o concerto entrou no que chamo a sequência de ouro, ou seja, a interpretação dos clássicos “Jasmine & Rose” e “ Louise” que soaram magníficas e geniais. Estas duas canções apenas da maneira como soaram já me deixaram satisfeito, fim de concerto vamos embora, já valeu a pena. Escrevo isto em forma de gracejo, é óbvio que queríamos mais. É claro que ainda nem sequer íamos a meio do deleite Xymox , de seguida ouvimos “All I Ever Known”, uma delicia a fazer lembrar a canção “The Walk” dos The Cure como se tivesse sido feita quem sabe pelos Visage, uma figura de estilo grosseira eu sei, para descrever um portento de canção.
Dai até à conclusão do alinhamento propriamente dito antes dos dois encores que vieram a acontecer foi um pulo. Novo regresso a um passado recente com o Single “Loneliness” de 2017, a actualidade com a excelente canção “Suffer” do EP ´x-odus` que refiro, das novas canções foi a minha preferida, depois “She” e finalmente o clássico absoluto “A Day” que originou a festa e a celebração absoluta nos fans emocionados, com os seus teclados fantasmagóricos e ritmo avassalador e aquele riff de guitarra clássico de Ronnie Moorings e também a sua vocal mais emblemática de sempre.
Por esta hora, nem o calor intenso que se fazia sentir no RCA Club, estragava a minha boa disposição e felicidade por estar a assistir a este concerto. Voltaram para um primeiro encore com “Blood Of Christ”, do mais recente disco, depois o clássico “Muscoviet Musquito”, canção que eu pessoalmente nunca apreciei de sobremaneira e voltaram ao Álbum ´Medusa` com “Michelle” e “Back Door”.
Num último regresso ao palco com Ronny a anunciar que tinham sete minutos apenas para dar como concluída a actuação, o frontman dá a escolher à audiência um de dois temas “ Obsession”, penso eu, e na realidade acabaram por tocar também o segundo tema sugerido “This World“, temas antigos respectivamente um da fase Xymox do excelente disco “Twist Of Shadows”, se não estou enganado, e o outro do Disco ´Hiden Faces`. Por esta altura a minha função de repórter da memória já estava, confesso eu, dissolvida na apreciação imensa que estava a ter desta noite. Havia mesmo muito mais para dizer de uma noite assim no entanto acaba por ser um exercício fútil descrever um evento que decorreu exatamente como se esperava. Só me resta agradecer à promotora At the Rollercoaster por ter trazido os Clan Of Xymox de volta a Portugal. Foi e repito novamente, uma noite perfeita.