Neste 29 de Setembro, num domingo à noite, estamos no Lisboa ao Vivo para mais um concerto dos The Mission em Portugal e a história é a de sempre: a banda em perfeita comunhão com o seu público ou o público em perfeita comunhão com a banda. Algo não incomum neste tipo de eventos em que, uma banda clássica dos tempos áureos do rock gótico que ainda se mantém em boa forma e actua regularmente pelos palcos de todo o mundo, nos brinda com a sua presença em território nacional. Algo que não se pode dizer de todas as bandas do género certamente, mas no caso dos The Mission, são o perfeito exemplo disso. Não me lembro de alguma vez ter assistido a uma má actuação deles. Se bem que neste caso e nesta noite em especial sou obrigado a escrever que os The Mission têm mesmo alguns dos melhores “fans” do mundo. Isto porque a noite devido a alguns problemas técnicos ao início, com efeito no início da actuação e os momentos das primeiras canções, não lhes correu como esperariam, mas já lá vamos.
Antes, na primeira parte tivemos a banda portuguesa We Know a Place. Banda que com quatro jovens músicos em palco a promoverem ainda, julgo eu, um primeiro EP intitulado ´Lack of Sleep` terá já anunciado no seu canal Oficial de YouTube, um primeiro álbum, com edição prevista para este ano de 2024, na forma de um avanço do videoclip para a canção “Looking For Sex”. Tratou-se efetivamente de uma actuação competente e entusiasta deste jovens músicos, que pontuou por uma entrega de canções com forte carga rítmica, em que destaco na actuação, as fortes dinâmicas do baterista e a voz suave do cantor. Particularidades que formam um contraponto interessante. Têm espaço para crescer estes jovens músicos e deram-nos uma actuação competente e entusiasta como disse, mostrando-se muito felizes por aqui estarem. Mostraram de forma tímida um nítido à vontade em palco, o que é bom. O som da banda define-se um pouco para quem quiser conhecer mais ao pormenor, para futuras audições talvez, como um rock com algumas influências norte-americanas, virado para as gerações mais jovens, como é natural. Mas nesta actuação detectei alguns pormenores interessantes, que levam para outras paisagens também, em especial nas guitarras eléctricas em algumas canções. E no fundo é disso que se trata, do futuro em aberto, para tão jovens músicos numa tão jovem banda. Foi uma actuação interessante e inesperada para quem como eu não estava familiarizado com o som dos We Know a Place.
Finalmente pelas 22 horas entraram em palco os The Mission, abrindo a actuação com “Wasteland” canção magistral que, por pior que esteja o som, e convenhamos, vou directo ao assunto, estava mesmo um som cortante e desequilibrado a ser debitado pelo PA da sala…não há outra forma de dizer isto, mas sendo a canção é tão boa como é, e a entrega dos músicos é tanta, que parece que soa tudo bem à mesma, tamanho é o entusiasmo dos presentes com o início do concerto.
É por isso e não só que digo que os The Mission têm os melhores fans do mundo. Eu sinceramente já tenho saudades de os ver num concerto com um bom som do princípio ao fim. Nesta noite somente a meio da primeira parte do alinhamento principal por altura da canção “Afterglow”, é que segundo a minha percepção, os problemas técnicos terão ficado mais ou menos resolvidos. Até esse momento, foi foi um constante vislumbre, em especial nos primeiros temas, de Wayne Hussey a apelar aos técnicos de palco, para que fossem resolvendo problemas na sua munição de palco, ou outros, essas coisas que surgindo de imprevisto afectam a actuação de qualquer banda.
Os “fans” nos quais me incluo, apesar de nesta crónica ter o dever de relatar o que na prática se passou, aceitavam com entusiasmo tudo o que saia das colunas do PA, pois com efeito as canções apresentadas são muito boas. Assim, a seguir a “Wasteland” tocaram “Serpents Kiss“ Slave to Lust” “Garden Of Delight” “Can´t See The Ocean For The Rain”, uma nova canção intitulada “ Kindness is a Weapon”, “Like a Child Again “ e chegados a “Afterglow”, como referi um momento de viragem, em que os meus ouvidos deixaram de sofrer com o impacto dos temas na acústica da sala. Efetivamente por essa altura sobravam apenas mais três canções “Mta-Amor-Phosis”, “Kingdom Come” e “Deliverance”, após as quais, os nossos heróis saíram pela primeira vez de palco. Como cavaleiros do apocalipse sonoro haveriam claro de voltar para brindarem o público que quase que esgotava a sala num domingo à noite, o público mais fiel do mundo, o mesmo público que entoa sem parar as letras das músicas, o mesmo públicoresponde entusiasticamente a cada apelo de Hussey.
O primeiro encore começou com “Butterfly on the Wheel” o momento delico-doce eterno da carreira desta banda. Depois “Sea Of Love” e então depois, surge a fantástica canção que destaco como o meu momento favorito desta noite, “Swan Song” do disco de 2013 “The Brightest Light”. Vibrei intensamente com a interpretação da banda desta canção, que ganha uma intensidade ao vivo fenomenal na parte quase final do tema, em particular com as guitarras de Simon Hinkler e Wayne Hussey a adquirirem uma deliciosa componente sinfónica, no jogo que jogam, as duas guitarras ,com um dos melhores riffs de guitarra da carreira discografia mais “recente” desta nova vida dos The Mission. Nota máxima também ao baterista Alex Baum que sendo já este o segundo concerto que vejo dos The Mission a contar com os seus préstimos na bateria, tenho a dizer que até agora, é dos senhores que já se se sentaram no banco de bateria, após a saída de Mick Brown o baterista original, o único na minha opinião, que faz uma tão boa parelha com Craig Adams no baixo, como Brown fazia. Esta secção rítmica é mesmo muito boa. Alex sabe mesmo, parece-me a mim, o que esta banda precisa na interpretação destas canções.
Voltaram ainda para um terceiro encore com “Wake”, “Severina” e a inevitável clássica canção que habitualmente, como é tradição, encerra de forma definitiva as actuações da banda. O clássico “Tower Of Strenght”. O que dizer? São os The Mission, que vencem de forma triunfal as adversidades técnicas, apoiados no seu profissionalismo em palco, canções fantásticas, máxima entrega e a eterna devoção do seu público.