Os irlandeses Fontaines D.C. estrearam-se em nome próprio em Portugal na passada sexta feira, depois de uma outra recente passagem por Paredes de Coura ainda em agosto deste ano.
O nível da expectativa é alto e tangível. Todos os relatos das anteriores passagens faziam antever uma noite memorável, apesar da recepção ao ultimo álbum, “Romance”, editado poucos dias depois da passagem por Paredes de Coura não ter sido a mais unânime de todas.
O aquecimento da noite coube aos ingleses Wunderhorse que lançaram o seu segundo registo, Midas também no final de agosto passado, e que durante os cerca de 35 minutos de concerto cumpriram de forma competente o que deles é esperado enquanto banda de suporte. Não há espaço para surpresas, porque a expectativa pela entrada dos irlandeses é mesmo palpável. Sente-se que paira uma energia muito característica, de tal forma que o final do concerto dos Wunderhorse, mesmo arrancando algumas palmas da plateia quase passa despercebido apesar do recinto já se encontrar praticamente cheio. .
Mas é durante aqueles vinte/trinta minutos entre os concertos que se confirma que queremos mesmo mesmo mesmo ver o que é os Fontaines D.C. vão trazer para a arena do Campo Pequeno. A playlist entre concertos remete muitos dos que ali se encontram para outros tempos, ouvindo-se claramente um bom número de vozes a cantar Today dos Smashing Pumpkins ou Alison dos Slowdive. À medida que os minutos passam, a cada música que termina o público clama pela presença dos irlandeses, enquanto por detrás da cortina se adivinham as silhuetas da banda e da equipa de produção. As luzes desligam-se, os assobios e gritos que se ouviam pelo Campo Pequeno alastram, reclamam pelos irlandeses.
Ouvem-se os primeiros acordes de Romance, faixa que abre e dá nome ao último álbum da banda, a crescer e a expandir-se pelo espaço, com a banda ainda atrás da cortina num crescendo de suspense até que esta cai e somos fulminados pelas luzes de palco em sintonia com a abrupta mudança para Jackie Down The Line (Skinty Fia, 2022). O périplo pela discografia centrou-se sobretudo nos últimos dois álbuns que se diriam quase duas faces da mesma moeda, e que deram um tom muito mais morno do que aquele que o público ansiava. A recepção a Televised Mind e Lucid Dream(A Hero’s Death, 2020) mostrou-o bem.
E não é que as músicas novas tivessem sido mal recebidas, aliás muito longe disso (apesar de todas as coisa menos abonatórias que por aí se leram). Só que a energia dos dois primeiros álbuns é substancialmente diferente, e a plateia estava mais perto do caos e da revolução de Dogrel e A Hero’s Thing do que propriamente de Skinty Fia e Romance.
Os momentos mais densos foram mesmo as músicas dos discos mais antigos (como assim antigos?? 2019 foi anteontem mais coisa menos coisa) e o público estava mesmo a pedir uma intervenção mais dura do que aquela que a banda esteve disposta a partilhar, bastava qualquer riff um pouco mais duro, e já se formavam pequenos pits espalhados pela plateia, até pirotecnia houve…
Gente de grandes ideias e poucas palavras para lá da música, numa das únicas intervenções agradecem e posicionam-se “Free Palestine!” para logo de seguida dar entrada em Big e a Hero’s Death.
Não posso dizer de forma alguma que saí defraudada da noite, também não posso dizer que foi o concerto do ano. O de Paredes de Coura talvez tenha sido, apesar do alinhamento ser exatamente o mesmo.
Romance é um caminho novo? Nem por isso. Já lá estava quase tudo em Skinty Fia. Eu fui até ao Campo Pequeno com as expectativas relativamente baixas porque me sinto muito mais próxima dos dois primeiros discos do que dos dois últimos e é um pouco essa a percepção que tenho da maioria das pessoas com quem falei sobre isto. Lamento mesmo muito só agora ter conseguido ver os Fontaines D.C. ao vivo, porque o que me cativou mesmo em 2019 foi a aquela energia meio negra que emanam e da qual sou fã em muitas bandas e que neste momento parece mais negra mas ao mesmo tempo menos densa.
Não posso dizer de forma alguma que saí defraudada da noite, também não posso dizer que foi o concerto do ano. O de Paredes de Coura talvez tenha sido, apesar do alinhamento ser exatamente o mesmo.
Creio que convenceram muita gente que ia um pouco como eu, porque há discos que só começam a fazer sentido quando partilhados ao vivo com mais uns milhares de pessoas e estes irlandeses tão rápido nos enchem o peito com músicas como Roman Holyday ou I Love You como nos conseguem fazer pular com Death Kink ou Boys in The Better Land. É por isso que são um daqueles abraços de amor e caos, que serão sempre bem vindos na monotonia dos dias. Voltem rápido.