Concertos Reportagens

Tindersticks – O reencontro com os devotos na Aula Magna em Lisboa

Os fãs portugueses dos Tindersticks sempre foram um grupo devoto e fiel a esta banda que é uma verdadeira instituição da melancolia elegante e do intimismo das emoções humanas como a tristeza e um tímido sentimento de alegria de viver. Afinal se estar triste é o contrário de estar alegre, então damos graças por estarmos vivos também. Parecem sempre expressar esse paradoxo nas suas composições. Afinal talvez seja este o resumo do que é a melancolia.

Estava eu a escrever que a relação entre os Tindersticks e os seus fãs em Portugal é profunda e significativa, exemplo disso mesmo foi esta minidigressão de cinco datas em território nacional com lotações esgotadas. Presumo que sempre será assim. Para os ouvintes desta banda, cada vez que a mesma retorna para espectáculos a Portugal, é uma oportunidade de retornarem a um lugar seguro e aconchegante, com a certeza que iremos ser tocados por algo belo e característico a que já nos habituámos.

Dito isto, foi o concerto que eu menos apreciei dos já vários a que assisti dos Tindersticks.

Escrevia eu em 2020 a propósito do concerto deles nessa altura nesta mesa sala a frase “…assistir a um despretensioso e eficaz desfile de canções” de onde destacava na altura um bom punhado de canções que me haviam elevado a alma na sua interpretação em palco. 

Isso tudo continua a ser verdade embora na minha opinião um pouco menos verdade neste concerto. A voz de  Stuart Staples continua intocável como já tinha escrito em 2020. Contudo para mim houve alguns pontos negativos desta experiência deste mais recentemente reencontro ao vivo com os Tindersticks.

 Ficaram esquecidos para mim temas mais marcantes do início da carreira. O alinhamento escolhido com toda a sinceridade, digo sobre a pena de ser excomungado, na primeira metade do concerto as canções apresentadas, levaram-me ao bocejo.  Embora a espaços lá me fosse deixando seduzir por temas bonitos e doces como por exemplo “Falling, The Light “ ou “ Second Chance Man” na sua interpretação vocal e bonitos pormenores instrumentais.

Só comecei a despertar dessa sensação de sonolência a partir do que veio a seguir uma versão de uma canção de Dora Previn “ Lady With The Braid” e a seguir “Willow” e “The Bough  Bends”, ainda assim todas canções da vida editorial mais recente dos últimos anos da carreira dos Tindersticks, podiam era ter brindado os presentes assim a meio com algo mais empolgante do passado como, sei lá, “Jism” talvez. 

Facto é que o único tema na sua interpretação ao vivo que me fez mesmo chegar àquele estado de espírito elevadíssimo de calafrio, assim como lhe chamo, tenha sido o magnífico e belíssimo “Always a Stranger” do novo disco ´Soft Tissue` que havia de chegar pouco depois. Que belíssima canção esta, que já me havia despertado a atenção quando de forma despreocupada ouvi o novo disco de estúdio. Aqui ao vivo essa canção ganhou ainda maior beleza e sinceramente era este tipo de canções avassaladoras que eu gostaria de ter ouvido durante todo o concerto, contudo enquanto esta banda continuar a fazer nem que seja uma canção assim, perdoo-lhes tudo, até mesmo o concerto desta noite que para mim foi morno e longe da genialidade de outros tempos. 

A guitarra de Neil Fraser foi claro um outro destaque assinalável, proporcionado os restantes músicos na maior parte dos temas um acompanhamento avant-garde , mais jazz do que rock, a bateria tem mais impacto sonoro no coração dos ouvintes com os pratos do que propriamente com a tarola. Portanto isto não é um concerto de rock é uma celebração de melancolia sofisticada.

O som esteve muito equilibrado, sempre com grande definição, o que já é apanágio nas apresentações ao vivo deste colectivo. Os pormenores percussivos em “Secret Of Breathing” espalharam-se maravilhosamente pela sala, criando este belo intimismo que é sempre sedutor, foram exemplo disso. Apreciando assim o desfilar das canções neste concerto para gente sentada, contemplei a banda em estado de absoluta concentração a executar um alinhamento com obvio destaque para o mais recente disco e vida criativa mais recente da banda, e sabendo que todas as bandas têm ou deviam de viver mais no presente então não podemos criticar os Tindersticks por não estarem sempre a tocar os clássicos do início da carreira. Por outro lado quem os vai ver talvez espere um pouco disso também.

Em resumo um concerto que não defraudou os mais convictos fãs que continuam encher as salas pois Tindertsticks é um nome que é sinónimo de qualidade, mas que para mim nesta ocasião foi um concerto morno.

 Enquanto estou a escrever estas linhas estou reouvir “Love Is a Stranger” que belíssima canção.

Escrevia em 2020 que “Não será a ultima vez certamente que reencontrarei a banda…” o sentimento por absurdo e estranho que seja é ainda o mesmo. Até a uma próxima fieis arautos da elegância e melancolia.

  • 20241112 - Tindersticks @ Aula Magna
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