A maior sala de espetáculos de Lisboa recebeu na passada 5ª feira dia 21 de novembro, os texanos Cigarettes After Sex. Aparentemente, numa visão periférica às redondezas da sala, diríamos que o o seu mais recente álbum X´s, estaria a atrair uma audiência maioritariamente composta por sub-16. Mas entrados na imensa sala do Parque das Nações, percebemos que os cotas também por lá andavam, uns na guarda das crias que não largaram a frontline, outros inebriados na atmosfera magnética que a banda de Greg Gonzalez proporciona.
O trio de El Paso, Randall Miller (guitarra baixo), Jacob Tomsky (bateria) e o dono da voz andrógena repleta de pura sensualidade e dos mágicos acordes de guitarra, o fundador Greg Gonzalez, terminaram a “X’s” World Tour” enfeitiçando Lisboa e deixando uma atmosfera recheada de purpurinas românticas com sabor adocicado.
Não que esperássemos um cenário muito diferente daquele que visionámos no palco Cupra da edição de 2022 do Primavera Sound, mas que tivesse um apontamento ou outro ligeiramente diferente. Pura especulação de quem não se inteirou do verdadeiro fenómeno norte americano da dream pop.
Pouco passava das 21h quando as luzes se apagaram e os gritos agudos se intensificaram na primeira metade da sala. Uma luz ténue surgiu sobre a escuridão do imenso palco, e envergonhadamente foi iluminando a negritude dos três músicos. Gonzalez, envolto no seu blusão de cabedal negro caminhava com elegância nos seus óculos escuros, aconchegando a sua bonita Parkerfly ao peito. Estava dado o mote para um par de horas de melodias intensas, com vibrados acordes embrulhados em feixes de luz melosa.
Um pequeno passo dado em direção ao público, e os gritos dos fans que se amontoavam nas primeiras filas fizeram vibrar as cadeiras da parte de trás do pavilhão, “You are all I Want” (2020). As câmaras não incidiam sobre eles, mas certamente que nesta altura já estariam em lágrimas. Um primeiro cumprimento de Gonzalez meio sumido (‘Good night’) antecipando a apresentação de “Dark Vacay” (2024), e após retirar os óculos escuros manteve os olhos fechados deixando-se invadir pela profundidade da melodia enquanto continuavam a projetar a sua imagem nos écrans laterais. Neste momento os vídeos começaram a ser projetados no ecrã central, e a lua foi aparecendo meio tímida entre o cinza das nuvens até iluminar uma boa parte da tela (capa do último álbum X’s).
“Notthing is gonna hurt you baby” (2012), onde o ecrã se encheu de Gonzalez e do seu olhar, que ia comendo as notas diluídas na tranquilidade do cinza, como se estivesse a contemplar cada palavra que da boca lhe saía. Endireitava a guitarra enquanto tocava, num gesto lento e delicado, fazendo vibrar o público já rendido à delicadeza do seu feitiço. Este é talvez dos temas mais bonitos e também mais conhecidos de Cigarettes After Sex, acompanhado pelo público no refrão e nas luzes dos telemóveis que iluminavam a sala como estrelas suspensas na negritude daquele embalo.
Segunda interação da noite, mostrando a sua satisfação de voltar a tocar em Lisboa e apresentou “Tejano Blue” tema do novo álbum, com a lua novamente no horizonte.
Três feixes de luz sob os três músicos, fazendo com que o público acompanhasse em uníssono a música que fora pedida por uma rapariga na frontline, se calhar a mesma à qual ofereceu a setlist no final do concerto.
“Cry” (2019), “K.” (2017) ou “Heanvly” (2019) que deixam qualquer um rendido à tranquilidade da beleza à sua auscultação. As imagens seguiam projetadas continuamente, entre cascatas e girassóis em fogo, na intensidade dos temas que mereceram todos a ovação constante do público. Já quase no final, os temas “Dreaming of you” (2020) e “Apocalipse” (2017), tiveram um gingar de ombros coletivo, deixando todos maravilhados com os efeitos da enorme bola de espelhos sob as nossas cabeças. Nesta altura já saiam as moças da frontline meio desgrenhadas e ensopadas em suor, mas com a felicidade estampada no rosto.
Numa espécie de encore, terminaram com o tema “Opera House” (2017) entre gotas de chuva e com Gonzalez numa extensão do palco ficando mais próximo do público. Um concerto para aquecer corações e suscitar paixões, reconfortantes e tranquilas, daquelas em que apetece fumar…a seguir.