A romã é um fruto sazonal que serve o desejo de quem gosta de apreciar o sabor doce de cada bago e serve, também, de terapia ansiolítica a quem a descasca. Às vezes precisamos disso, do tempo, de tocar o tempo, de moldar a paciência e, principalmente, de apreciar as coisas simples e belas da vida.
O meu primeiro contacto com Tess Parks foi há quase 10 anos na primeira edição do Lisbon Psych Fest, talvez na sua estreia em Portugal.
Confesso que não foi a melhor impressão, apesar de achar que o grau de embriaguez lhe abafava todo o talento que tinha dentro de si e que não podia ser só aquilo que eu estava a ver. Felizmente que não foi! Tess Parks tem vindo a agarrar-me cada vez com mais força ao seu talento e, principalmente, à sua voz.
Este seu terceiro disco, um pouco menos melancólico que Those Who Were Seen Dancing mas não menos intenso e sofrido, é de uma beleza extrema. Nele encontramos melodias suaves e arrojadas, penetrantes e sensuais, rendilhadas por uma voz bagacenta que abraça uma sensação de liberdade que consegue transpor para o ouvinte.
Em Pomegranate encontramos uma mistura de sentimentos e sensações tal como a vida que vivemos diariamente. Este disco não é mais que o reflexo da nossa fragilidade abraçada à vontade voraz que temos de continuar. Entre isso, saboreamos a natureza e absorvemo-la por todos os poros em modo lento e prazeroso e, por vezes, ansioso.
Apresenta-nos um registo de folk psicadélico cheio de melodia, harmonia e um tom dourado que a faz brilhar. Entre ele, ondas sonoras quentes e envolventes, com refrões orelhudos e encantados que por vezes carregam nostalgia e por outras apenas o gosto de viver. O toque sublime do piano é-nos ofertado por diversas vezes, conferindo um tom suave e aveludado, atenuando a onda psicadélica.
Partilhado entre Londres, Toronto e Los Angeles, este disco consegue misturar um pouco da essência de cada uma destas cidades cobrindo as 9 faixas que o compõem de tons cinzentos, esbranquiçados, azuis, quentes, chuvosos, solarengos e frios. Mas, acima de tudo, mostra-nos uma evolução na composição e na forma de absorver a energia da música, partilhando isso com o resto das pessoas. “California’s Dreaming” abre-se ao calor do deserto e à liberdade solta que se vive por entre palmeiras, praias e skateparks, sente-se em cada nota e a cada frame do vídeo que acompanha a música. “Koalas” foi o mote para o nascimento deste disco, pois, quer queiramos quer não, tudo acontece na altura que tem de acontecer e nos moldes em que, precisamente, tem de acontecer. Trata-se de uma música mais introspectiva que sussurra à alma e a desafia a dançar uma dança conjunta entre o passado, o presente e o futuro. Uma nota a “Crown Shy” que foi o primeiro vídeo que vi e single que ouvi deste disco e que rapidamente me deixou uma sensação de suavidade primaveril embrulhada numa liberdade pura e desafiante.
O disco saiu a 25 de Outubro deste com o selo da Fuzz Club e da Hand Drawn Dracula e foi produzido pelo multi-instrumentista Ruari Meehan, que partilhou mistura com Mikko Gordon (The Smile, Gaz Coombes, Arcade Fire).
Podem ouvir esta delícia aqui.