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Kevin Morby, pessoal e intransmissível

O Auditório Emilio Rui Vilar na Culturgest esgotou por completo para receber de braços abertos Kevin Morby na passada quinta feira à noite. Por cá não é segredo nenhum que Kevin Morby é um dos bem amados de um certo panorama musical e era certo que o concerto esgotaria.  Kevin Morby também não se tem feito rogado em mostrar e demonstrar o quanto aprecia passar por cá.

Se é verdade que todos os concertos de Kevin Morby parecem sempre reflectir um momento em que nos faz sentir especiais e em que nos parece transportar numa cápsula intimista mesmo quando mais eclético, o concerto desta noite será ainda mais especial por trazer com ele um palco cheio de jovens e talentosos músicos, o Ensemble da Escola Profissional de Música de Espinho.

© Vera Marmelo

O palco apresenta-se simples e singelo, com algumas rosas a adornar o centro do palco para a apresentação de “This is a Photograph“(2022), agora embelezado pela participação do Ensemble da Escola Profissional de Música de Espinho. 

Kevin Morby não sendo o maior comunicador do mundo consegue fazer o que mais importa nestas coisas; estabelecer uma ligação duradoura com aqueles que o seguem por estes caminhos! E sempre com um humor afiado e algo negro, vai arrancando sorrisos sem grande esforço a todos os que o vão ouvindo, muitos de olhos fechados a trautear baixinho.

Navega com mestria por entre os originais que em pouco mais de uma década já são mais que uma mão cheia de álbuns e algumas contribuições para bandas sonoras, sempre com uma identidade bem marcada que nos leva ás paisagens mais inóspitas e belas que alguns de nós talvez nunca virão a ver, aquela américa perdida dos filmes, da terra vermelha, das gentes fechadas nas pequenas terras de ninguém que despertam um dia para um mundo diferente do que sempre conheceram quando o estranho misterioso chega á cidade.

© Vera Marmelo

É também de filmes e politica que Kevin Morby nos fala, numa breve explicação da escolha de algumas das músicas muito ao estilo parece-me do próprio Kevin Morby, que foi gracejando com coisas sérias como quando introduziu Beautifull Strangers que havia composto aquando das eleições de 2016 e que aqui recupera por se ver novamente quase no mesmo sitio que oito antes, com a diferença que agora já se sabe que não existem quaisquer certezas do rumo que as coisa poderão tomar…. e isto sempre sem nomear o inominável para não destruir a beleza do momento.

É importante explicar estas coisas, dar sentido, para que todos possamos partilhar de um determinado imaginário. “Texas When you Go“, uma das músicas do encore, é um original de John Calhahan. Morby explica que conheceu esta música através do filme baseado na biografia de John Calahan (Don’t Worry, He Won’t Get Far On Foot, 2018), que fez questão de ver até aos créditos finais para saber a quem pertencia. Já fui espreitar e é uma comédia algo negra mas bastante inspirada.

O namoro com Morby está para durar. Enquanto existirem corações utópicos, sensíveis e sonhadores, será sempre recebido como se despediu de nós nessa noite, a distribuir as rosas vermelhas que tinha em palco, com os versos de Harlem River ainda a reverberar “Harlem River talk to me, Where are headed now? Harlem River I’m in love, love, love, love, All because of you.