Concertos Reportagens

bbb hairdryer, Um grito de libertação!

Em pleno Agosto deste ano, envolta no verde tranquilo das árvores que abraçam a Praia Fluvial do Taboão, dei por mim a divagar entre o antes e o agora e, também, o depois. Nestas divagações, senti que havia cada vez menos música que vinha da alma. Música que era feita com o peso dos segredos mais íntimos mas que revelam, sem revelar, o que nos constroi e destroi. Senti, também, que a música pela qual me perdia de amores era sempre aquela que carregava o peso de cada ano e de cada vivência. Talvez por ser a mais genuína, orgânica e a que se faz da e com a alma. Quando assim é, toca mais. Pelo menos a mim. Ao mesmo tempo, senti um desalento por todo o fast food musical que presenciamos nos dias que correm e por toda a falta de alma que acompanha as músicas. Senti, também e, por fim, que o nosso Portugal estava a vingar muito por este caminho e senti-me triste por isso. 

Felizmente, ainda há quem faça música vinda do mais profundo recanto do seu ser. Música sentida, música vivida e música capaz de abalar e mover outras almas sedentas do sentir.
Na passada noite de quinta-feira, dia
12 de Dezembro, o frio que se fazia sentir, foi-se dissipando dentro do B.Leza e isso fez-se com a ajuda de duas bandas: uma que ganhou pela criatividade e outra pela densidade e intensidade. 

Um pouco depois da hora marcada começam os bcc (leia-se banda de call center) com o vocalista deitado sobre um banco comprido, mãos cruzadas com uma espécie de terço e a tentativa de parecença com um velório. Talvez porque o trabalho de call center mate cada um aos poucos, dia a dia. Talvez porque simplesmente acharam que assim se apresentariam. Seja como for, a performance não podia ser mais original. As letras são uma sátira aos trabalhos precários e uma espécie de gozo com o seu dia-a-dia e são acompanhadas pelo famoso trio de guitarra, baixo e bateria. De relevar o trabalho do baixo que se realçou neste misto entre punk rock e alguns laivos de post punk. As vozes poderiam ser declamadas, cantadas ou berradas e tudo encaixou bem proporcionando um bom momento de diversão. Os bcc apresentaram músicas novas e tocaram “clássicos” tendo excedido um pouco o tempo de concerto que teria sido perfeito se fosse ligeiramente mais curto. 

  • 20241212 - BCC @ B.Leza
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Um tornado estava prestes a passar por nós e a deixar-nos sem chão. Há muito que ansiava ver bbb hairdryer e não podia ter sido um primeiro encontro mais feliz.
No chão, tal como a banda anterior, bem à lembrança de outras eras onde o punk e o grunge nasciam e agitavam multidões, surge Elisabete, no meio do público, a entoar à capela de forma tímida mas segura “For Them to Want to Fuck Me”. Dando início a um concerto potente e explosivo com os pêlos dos presentes em pé. Mal chegou ao microfone o tempo parou e ficámos todos presos numa cápsula de sentimentos turbulentos, revolva, angústia, raiva e, acima de tudo, muito talento. Ficamos presos, também, nos anos 90, naqueles bons, onde a música vinha da alma e vimos diante de nós um Kurt enraivecido a criar o Bleach, um mosh em At The Drive in, a electricidade de The Mars Volta e até um noise de Sonic Youth e soube bem ficar ali.
Elisabete Guerra é uma excelente compositora e consegue criar atmosferas que tanto nos abanam freneticamente como nos deitam ao chão e nos deixam rendidos aos seus pés. Toda a banda que a acompanha faz um excelente trabalho e a jarda sonora que se sente num concerto deles é realmente um grito que vem das entranhas.
De costas para o público, deixando no ar uma timidez que não carregam mas provando ter a atitude certa para o que querem fazer, todo o cenário é digno de nos criar um formigueiro no corpo. As faixas na sua maioria, curtas, densas e intensas, cheias de altos e baixos e da adrenalina de uma montanha russa. Com explosões constantes e encontrões sonoros foi um concerto que passou a correr, sem conseguirmos perceber bem o que se estava a passar diante de nós. O disco novo
A Single Mother / A Single Woman / An Only Child foi apresentado na íntegra, havendo espaço para “Eat Something” do anterior. Apesar da hora tardia, o serão foi bem aproveitado e serviu para não perder a esperança nas bandas que ainda tocam com alma, não se rendendo ao fast food musical que aparece e desaparece diariamente nos tempos que correm. 

Obrigada Elisabete, que nunca te falte a garra e vontade de vencer a guerra! 

  • 20241212 - BBB Hairdryer @ B.Leza
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