Os franceses Nouvelle Vague estão a celebrar os 20 anos do seu primeiro álbum (homónimo), e integraram na sua tour mundial 7 atuações em Portugal. Iniciaram esta viagem por terras lusas no passado dia 10 na Figueira da Foz, dia 12 em Albufeira, por Lisboa estiveram na 6ª feira dia 13, no Fundão dia 14, em Guimarães dia 15, e terminaram no continente atuando no Porto dia 16. E finalmente o último concerto dia 17, na cidade açoriana de Ponta Delgada.
A banda de Marc Colin e Olivier Libaux (este último desaparecido em 2021) tem uma proximidade a Portugal que remonta praticamente desde o seu início, tendo sido em 2005 no Lux em Lisboa um dos primeiros concertos no estrangeiro. A edição do CD duplo e DVD do concerto ao vivo na Aula Magna, em Lisboa, em dezembro de 2007. A editora independente portuguesa, Symbiose, tem sido também uma das responsáveis pela divulgação do seu trabalho em Portugal.
Estivemos no Lisboa ao Vivo (LAV) e assistimos a uma das melhores atuações da banda que tem a capacidade (re)compor os melhores temas da “new wave” mundial. Com Marc Collin (teclados), Thibaut Barbillon (guitarra), Oliver Smith (contrabaixo), Julien Boye (bateria), e a sensualidade refinada das vozes de Melanie Pain, Phoebe Killdeer, Shanice Sloan (Alonya). A australiana Nadéah, ex-integrante da banda, também se juntou ao trio feminino e ‘aqueceu’ o palco na primeira parte com o seu projeto a solo .
Um alinhamento expectável, onde foi revisitado praticamente todo o primeiro álbum e grande parte do mais recente álbum (fevereiro 2024), “Should I Stay or Slould I Go?”, tema original dos britânicos The Clash. Mais de duas horas de uma intensa sensualidade vocal, mas acima de tudo muito performativa, não fosse o mais recente elemento feminino da banda, Alonya, também atriz e bailarina (Paris Crazy Horse).
A boa disposição e simpatia de Melanie Pain, cativaram de imediato a audiência que com sorrisos constantes ia respondendo às suas piadas sobre os portugueses. Numa dupla perfeita com Phoebe Killdeer (ambas têm o projeto musical Kill The Pain), envolveram-nos no maravilhoso tributo aos clássicos da new wave anglo-saxónica com a uma proeza criativa, a de termos alguma dificuldade em perceber de imediato qual o cover que docemente vocalizavam. E é precisamente este potencial artístico dos Nouvelle Vague, uma bossa nova que não cansa, capaz de surpreender e reinventar cada estória contada nas letras dos originais.
No meio da envolvência parisiense de Melanie, onde o branco da flor no cabelo combinava com os seus sapatos, surgia a energia selvática de Alonya. “The Forest” dos The Cure, foi talvez dos momentos mais altos da sua atuação, quando já perto do final do tema ‘exorcizou os demónios’ em cumplicidade com o incrível baterista que acompanhava a aceleração dos seus movimentos, provocando-os. “Teenage Kiks”, dos The Understone, onde o público interagiu com Melanie que cantava a diferentes ritmos e pedia a sua repetição. Em seguida, Nadéah subiu ao palco pela segunda vez, e numa interpretação irrepreensível cantou “The gun of Brixton” dos The Clash, em gestos certeiros com uma shut gun (no refrão).
“Too drunk to fuck”, dos Dead Kennedys e as quatro ninfas permaneceram juntas em palco. Enquanto Melanie e Phoebe cantavam, Alonya e Nadéah distribuíam vinho branco no público, enchendo os copos ou a goela a quem o quis beber! Deambularam em danças dionisíacas, até ambas se deitarem caídas no palco com as garrafas já vazias. Uma festa! Um concerto cheio de momentos festivos, ora em solos de bateria xamânicos (perdi a conta do tempo!), ora em expressões corporais endeusadas das quatro ninfas sedutoras.
Marc Colin dizia numa entrevista, que os Nouvelle Vague são para todas as gerações, pois já apareciam nos concertos os filhos dos adolescentes que os ouviam em 2004. Em Lisboa presenciámos exatamente esta situação! Um encore com quase uma mão cheia de músicas, com dedicatória a um dos fundadores da banda falecido em 2021, Olivier Libaux. Entre “Human Fly” dos The Cramps e “This Charming Man” dos The Smiths, terminaram em apoteose com o público a cantar em repeat, ‘Give me the words, that tell me nothings‘, numa interpretação magnifica de Alonya, “In a Manner of Speaking”, de Tuxedoom.
Que venham mais 20 anos de interpretações magníficas e de reinvenções perfeitas, de novos e bons músicos, e esta felicidade contagiante que nos transmitem. Parabéns Marc Colin pelos 20 anos, por não teres desistido dos Nouvelle Vague e por continuarem a dar-nos momentos memoráveis!
