Concertos Reportagens

Ditz no Musicbox Lisboa. Onde a música se cruza com a liberdade?

Onde a música se cruza com a liberdade? Em toda a parte e nesta noite especifica cruzaram-se no Musicbox. As revoluções antes de acontecerem não tem dias marcados. Excepto aquelas que têm dias marcados, mas nós nunca sabemos se vão realmente acontecer… Os concertos por vezes são um bocado isso, a expectativa de assistir à revolução, como se uma hora e meia de palco mudassem o curso da distopia em que nos encontramos mergulhados de algum tempo a esta parte.

Os Ditz, quinteto oriundo de Brighton onde se consideram um pouco mal amados (li isto em pelo menos duas das entrevistas que li deles), actuaram na passada semana num Musicbox praticamente cheio e expectante. Pela primeira vez em nome próprio e a apresentar o fresquíssimo novo álbum “Never Exhale” editado a 24 de Janeiro mostraram-se empenhadíssimos em corresponder ao entusiasmo que enchia a sala do Cais do Sodré e à hora marcada fizeram questão de demonstrar o quão importante este momento é para eles, dando de si, na medida mais bonita, homenageando parte da alma portuguesa.

Assim instantes antes de entrarem em palco ofereceram, sem qualquer aviso, ou sem que algum de nós o pudesse adivinhar, ao público que os aguardava o gentil abraço de uma música que a todos nos remete para um outro mundo/momento do espaço/tempo, “Cheira bem, Cheira a Lisboa“, música da autoria de César de Oliveira, primeiro para Anita Guerreiro e mais tarde, popularizada entre nós pela voz de Amália.

Estes pequenos gestos têm muito que se lhe diga, são reveladores de um verdadeiro interesse em criar ligação com os públicos. A música é toda ela feita disso mesmo, emoções e empatia e  partilha, eles deixam em nós um pedaço de música carregada de emoções e em troca levam a nossa energia para continuar estrada fora.

Desde o início do concerto deu para perceber que por muita gentileza que viesse de cima do palco essa mesma gentileza tinha motivos nada ocultos. O que os Ditz queriam mesmo era demolir a sala, desconstruir-se enquanto banda e desconstruir-nos a nós enquanto espectadores. Testar os limites. E isso não tem nada de mal nem de estranho, principalmente quando falamos do primeiro concerto da tour. É perfeitamente plausível quererem testar os limites de um público.

Assim e sem grandes cerimónias lançaram-nos na vertigem do novo álbum, de onde, confesso esperava ouvir mais faixas. Taxi Man, Four, God On The Speed Dial, Space/Smile, Senor Siniestero  e Britney foram as escolhidas. Sem qualquer distinção entre este momento inicial e a viagem que se seguiu onde os Ditz abordaram The Great Regression (trocaram apenas alguns instrumentos) a energia e vontade de comunhão com o público manteve-se forte e concentrada nessa troca de  impressões.

Cal Francis, sempre com um ar desafiador, foi ao longo da noite oferecendo algo proveniente de uma garrafa que não consegui identificar mas que o público avidamente foi consumindo ao longo do concerto. Simultaneamente foi invadindo, consistentemente a plateia, quer pelo seu pé, quer em braços no meio da multidão, aproveitando para se abastecer no bar, subir ao balcão para daí cantar, ou mesmo apenas para pendurar um já conhecido peluche que costuma vaguear na frente da palco num dos arcos da sala.

Nada disto é novo, nem o que é dito, nem o que é feito, nem a performance que acompanha toda a situação.  Nestes momentos o que conta é o quão genuína é a atitude de uma banda. Os Ditz têm esse predicado preenchido. Talvez por o terem se sintam menos amados na terra natal, a frontalidade não é uma coisa fácil. Será que os conterrâneos dos Ditz se sentem visados nas músicas deles e não gostam do que vêm? Ao olhar para a letra de “No thank’s, I’m Full”, música que escolheram para terminar o concerto tudo me empurra para este pensamento;  “I feel naked when I put myself out there, But I also feel naked when I’ve got no clothes on! 

Não obstante, se assim é e se os Ditz sempre foram mais amados fora de portas, que o continuem a ser. Nós por cá vamos sempre querer mais. Voltem rápido, ainda este ano se vos der jeito.

  • 20250205 - Ditz @ Musicbox Lisboa
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