Opinião Reviews

Um gatilho sonoro chamado Buyer Beware

Por vezes somos brindados com discos que nos fazem sentir como se entrássemos num TGV e víssemos a paisagem desfocada e em riscos. Parece que nós próprios damos início a uma corrida feroz contra o tempo e contra o vento, sempre com aquela urgência e sede de quem reconhece o verdadeiro significado de efémero. Mas não é isso que passamos diariamente, ao acordar e sentir que há um fim estranho e desconhecido, tendo de aproveitar a viagem da melhor forma? 

Apesar de existirem desde 2008, infelizmente, só prestei atenção a The Men no final de 2024 e foi amor à primeira audição. Eles são Nick Chiericozzi (guitarra/voz), Kevin Faulkner (baixo), Mark Perro (guitarra/voz) e Rich Samis (bateria) e são de Brooklyn, NY.
O seu garage punk electrizante e diabólico é aquele que mais gosto. Aquele que nos faz perder entre a multidão em saltos, de sorriso rasgado e com a certeza de que a vida é linda. 

Hoje venho falar do seu mais recente disco. Buyer Beware é nem mais nem menos que o 15º da banda!

São 13 músicas em 33 minutos. É uma meia hora intensa em jeito garageiro e assanhado, cheio daquela energia contagiante do punk rock das caves, daquelas onde não dá para respirar, apenas para sentir. É meia hora onde abordam a problemática mundial do narcisismo, do egocentrismo, dos jogos de poder, convidando o ouvinte a olhar em volta com atenção e tentar perceber para onde caminha o futuro com o Homem ao comando. Abordam também a hipocrisia e problemas enquanto artistas na busca de inspiração, tendo como denominador comum a necessidade de sobrevivência.
As guitarras variam entre uma harmonia ofuscante e uma fúria inquietante e distorcida numa essência rápida e crua. De destacar os corta sabores do saxofone na “Buyer Beware”, da voz feminina em “Charm”, da variação de intensidades em “Nothing Wrong” e da densidade opaca e ligeiramente stoner de “The Path”, servindo para provar a versatilidade e genialidade da banda. 

Buyer Beware foi gravado por Travis Harrison (Guided by Voices, Built to Spill) em take directo de forma a podermos sentir a força visceral da banda e captar a sua essência ao vivo e sai hoje com o selo da Fuzz Club, de Londres.