Concertos Reportagens

Gavin Friday. Assistimos a um concerto de luxo na República da Música em Lisboa

Aposto que a promotora At The Rollercoaster nunca pensou ter num dos concertos por si organizado, metade da banda irlandesa U2 , neste caso Bono Vox e The Edge ambos a aparecem de propósito para ver um concerto de um dos seus artistas em Lisboa. Mas foi isso mesmo que aconteceu e claramente se alguma vez houvesse a mínima hipótese de acontecer seria com Gavin Friday a actuar na República da Música em Lisboa, apesar de o Irlandês já na noite anterior ter actuado no Hard-Club no Porto.

Estava, penso eu,  prestes a iniciar o concerto quando um amigo me referiu o surpreendente evento da chegada do duo Bono e the Edge ao edifício, facto que achei curioso, pensei – olha, só lhes fica bem vir apoiar o amigo. Um facto que foi noticiado no dia seguinte por alguns meios de comunicação social que naturalmente presumo, não se dignaram a  estar presentes nesta noite.

Vamos ao que realmente interessa, a música: Iniciando o concerto  após uma curta intro, com “Lovesubzero” faixa que abre o magnifico disco editado em 2024 ´Ecce Homo`, após mais de uma década afastado das edições discográficas a solo, Gavin Friday e os músicos em palco agarraram-nos logo pela goela, os ritmos programados, os samples, os teclados , os sopros e a voz da cantora Carlie e claro a voz de Friday ora num registo mais grave ou de falsete, ou mais arrebatado, malabarismos vocais de Gavin Friday como os identifico, fazem-se ouvir todos nesta bela canção. Estava dado o mote para um concerto sofisticado, uma espécie de cabaré de burlesco new-wave, o que seria à partida um conceito estranho, mas Gavin Friday é um artista extraordinário e estas canções de ´Ecce Homo` prestam-se a isso.

No palco está uma mesa com uma garrafa de água e um copo, longe já estão os tempos dos Virgin Prunes onde era servida nessa mesa vinho e cigarros, os tempos mudaram, hoje em dia a mesa é mais um adereço e a água refresca a garganta, o vinho e os cigarros como bem sabemos não.

Já estava à espera como se verificou que fosse dada nesta actuação particular incidência a este novo disco. De fora ficaram canções mais antigas que gostaria de ouvir da carreira a solo de Friday  que não vou estar aqui a enumerar todas. Preferia ter ouvido por exemplo “A song That Hurts” do álbum ´Catholic` do que a previsível “Angel” – esta última sucesso máximo da sua carreira a solo no circuito comercial. No final nem uma nem outra. E se para mim o único momento mais fraco deste concerto foi ter que ouvir uma versão um pouco irreconhecível de “Caucasian walk ” clássico absoluto dos Virgin Prunes, semelhante um pouco à que Gavin cantava com os Atonalist no final da década passada ao vivo, mas mais eletrónica ainda, com exceção da sua voz a vociferar Like a crazy singer in a band that’s lost the words… isso claro foi cantado na perfeição, facto é que uma vez que Renaud Pion da referida banda Atonalist esteve irrepreensível em palco durante o concerto todo, até isso para mim foi um mal menor. Simplesmente para mim “Caucasian Walk” é o bombo da bateria, o baixo, as guitarras e depois sim, ai poderíamos ter a voz de Gavin no seu esplendor. Mas isso são esquisitices minhas, o restante alinhamento do concerto foi excecional.

Para os saudosistas ”Sandpaper Lullaby” dos Virgin Prunes em que Gavin dividiu os vocais com a cantora presente em palco foi presumo que de uma forma geral pelo arranjo mais semelhante ao original, mais satisfatório para maior parte dos presentes, pelo menos para mim foi.

De de resto se antes já tínhamos tido canções como “Ecce Homo” “The Church of Love” ( Este um óbvio hit, provavelmente uma faixa que Andrew Eldritch dos Sisters Of Mercy não se importava nada de ser capaz de escrever e gravar) pouco importava o passado.  Canções como “ Stations Of the Cross” tema denso lindíssimo, “Lady Esquire” a invocar as boas memórias do Glam Rock de Bowie ou T-Rex, influências óbvias na carreira de Friday, este que em palco graceja sobre ter vendido a sua alma na adolescência ao Glitter, numa clara alusão ao Glam Rock. Canções  como Amaranthus (Loves Lies Bleeding)” dedicado à sua falecida mãe, “Lamento” com cadência intima mas com melodias épicas no meio da canção, onde a voz de Friday se espraia de repente pela imensidão. Neste momento após tudo isso já pouco me interessava o passado, estas canções são todas sublimes. Resumindo, não foi longo o resto do concerto, tivemos uma versão dos Atonalist penso que “The Road To Perdition” e a deslumbrante “When The World Was Young”. Não tivemos “Angel” mas tivemos “Cabarotica” e “Daze”.

É estranho escrever sobre um concerto assim, saí de alma cheia com vontade de ir ouvir as canções de Ecce Homo todas de enfiada. É esse o propósito de um concerto de apresentação de um novo disco e Gavin Friday atingiu esse propósito com mestria. Que volte mais vezes, com ou sem visita dos U2, por mim até podia vir a Madonna ver o concerto, o que interessa é que actuações deste calibre não acontecem todos os dias.

Fotografia © Gil Simão

  • 20250322 - Gavin Friday @ República da Música
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