Concertos Reportagens

Porridge Radio, à beira da vulnerabilidade de existir

Início de primavera, mas só no calendário. Ou então fim do inverno apenas. Talvez seja mais perto daí que estávamos quando o colectivo oriundo de Brighton, liderado por  Dana Margolin, Porridge Radio, se apresentou na Sala 2 do Lisboa Ao Vivo.

A abertura da noite esteve a cargo da dupla composta por Gus Englehorn na guitarra e Eesté Preda na bateria.  Ide espreitar no bandcamp este duo com uma pinta de surrealismo rock’ n’roll.

  • 20250321 - Gus Englehorn @ Lisboa Ao Vivo
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  • 20250321 - Gus Englehorn @ Lisboa Ao Vivo
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Mas a noite é de Porridge Radio, até porque esta é a derradeira tour, anunciada pelos mesmos ainda antes da saída do último registo, o EP The Machine Starts to Sing, no mês de Fevereiro. No entanto pelo concerto de hoje diria o contrário quanto mais não fosse pelo alinhamento quase todo ele centrado em “Clouds In The Sky They Will Always Be There For We”(2024), deixando apenas espaço a quatro ou cinco músicas de registos anteriores e mesmo posteriores, uma escolha que de certa forma me surpreendeu.

Criados em meados da década passada por Dana Margolin, a fim de colmatar uma necessidade de se expressar musicalmente mas numa lógica de continuidade do caminho que havia trilhado até agora, Rice Pasta and Other Fillers enceta uma trajectória que a própria classifica mais tarde de previsivél. O segundo e o terceiro albuns irão colocá-los em palcos maiores, o que é perfeitamente natural. É justo dizer que me passou ao lado, tudo.

A banda apesar de já ser conhecida do circuito indie e aí ser comparada a algumas das bandas assim catalogadas, viu o seu momento de estrondo ser abafado e simultaneamente amplificado pela pandemia em 2020. Foram a banda de capa da NME em Março de 2020 com uma extensíssima entrevista onde se falou de muita coisa mas sobretudo do segundo álbum da banda que sairia a 13 de março (recordem-se que foi nessa mesma semana que por cá se confinou por decreto).

Assim Every Bad, com algumas canções cheias de coisas sentidas, de repente, compete pela atenção num momento completamente fora de tudo o que poderia ser expectável ou previsível em termos de música ou o que quer que seja, para o bom ou para o mau. Acho que o saldo acaba por ser positivo. Every Bad, se o pudesse resumir em pouco, seria num grito de introspecção forçada, e o seu sucessor que sai no momento em que estávamos já no sentido inverso, “Water Slide, Diving Board, Ladder to The Sky” vem com todas as marcas dessa viagem.

Fui ouvir por curiosidade, sem conseguir precisar quando,  ou porque vieram cá tocar, mas não continuei a ouvir, não permaneci no que me suscitaram ou fizeram sentir. Mas não é um universo a que seja completamente alheia.

Não é complicado de ver o que as músicas de Porridge Radio disseram a muita gente naquele momento ou em qualquer outro. É a honestidade com que nos falam, e uma certa força frágil com a qual quase todos nós facilmente nos identificamos. Tem aquele toque de rebeldia adolescente e poético, e mesmo cru. É emotivo, sem ser lamechas, Acho que se pode dizer sem ofender ninguém.  De resto, quase tudo o que fui lendo e ouvindo sobre a banda liderada por Dana Margolin foi sempre mais ou menos positivo e lisonjeiro.

  • 20250321 - Porridge Radio @ Lisboa Ao Vivo
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  • 20250321 - Porridge Radio @ Lisboa Ao Vivo
  • 20250321 - Porridge Radio @ Lisboa Ao Vivo

É sobretudo a escrita de Dana Margolin que diferencia os Porridge Radio; You can imagine the end of the world dizem numa música deste ano (e sim basta-me essa frase neste momento porque neste momento é mais que plausível em várias esferas da nossa existência, ou não me digam que ainda não fizeram apostas convosco próprios de como vamos chegar ao final de 2025, que ainda agora conta só três meses e parece que já dura há três anos), ou dizem noutra “No, I don’t want to dance, but I don’t want to talk about it” quem nunca sentiu algo semelhante-? Por vezes só queremos mesmo não ter de explicar nada a ninguém.ou I’m Not Nervous, but I don’t know what I feel, I think about it and I feel like I can’t breathe”, ou mesmo aquilo que eu chamarei, para não colocar muito peso nisto mas sem ser leviana com estas coisas, um ligeiro panicar, normalizando assim o quão fugaz é a normalidade e ao mesmo tempo a possibilidade da vida nos fugir do controle.

E é essa espécie de esperança latente na maioria das letras que nos conduz à tal centelha da adolescência, bem transposta pela voz e presença de Dana. Essa é a cola que nesta noite une a banda e o público, um desencanto próprio, mas que carrega uma compreensão que o transcende e assim ultrapassa. Colocadas as coisas desta forma, nada nesta noite pareceu um adeus.