O dia começou com um eclipse parcial do Sol e terminou com uma grande tempestade. No passado sábado, dia 29 de Março, João Morais apresentou o novo disco d’O Gajo, intitulado “Trovoada”, no Auditório Carlos Paredes, em Benfica.
Nas duas sessões esgotadas, passou por dez dos onze temas deste novo álbum de originais e terminou com três temas de discos anteriores.
O Gajo fez a aparição em palco ainda no auge da “Trovoada”, mas assim que parou de chover, avisou os outros músicos de que o podiam acompanhar.
Começaram com uma energia incrível em “Baile de Búfalos”, a primeira música lançada e também o primeiro tema do disco. Não estivesse o público sentado que os trovões tinham continuado a sentir-se…
De seguida passaram a “Marabunta”, onde pudemos ouvir a flauta do João Martins e a “Pedra Sobre Pedra” que começou com o cavaquinho da Diana Ferreira, acabou com a sua gaita de foles e foi o primeiro tema da noite em que pudemos ouvir as palavras do João Morais, que neste último trabalho tanto fortalecem a mensagem.
O palco ficou em chamas com a passagem para “Barca do Inferno” e o temporal voltou depois com “Filhos do Vendaval”, onde se ouviam as vozes em coro da Diana e do João Martins. Nesta última, O Gajo trocou a viola campaniça pelo bouzouki e seguiu com ele em “Velho Tocador”.
De “Piratas do Tietê”, também com a gaita de foles da Diana, passaram para “Mar de Gente”, o segundo tema lançado, em que surgem todos a cantar e de pé.
Em “Povo da Fenda” (tema que me remete para os tempos de “Subterrâneos”, disco lançado em 2021) voltaram às posições iniciais.
Antes de nos levarem para o bosque de “Flores Silvestres”, onde estas surgem e crescem em liberdade, fizeram uma pausa para um brinde a esta nova vida d’O Gajo.
As sanfonas abandonaram o palco, para dar lugar a “Rebeldança”, que continua tão actual como a frase de Emma Goldman que a inspirou – “Se eu não puder dançar, esta não é a minha revolução.”.
Com o aproximar do final do concerto, ouviu-se um “ohhhh” em coro, vindo da plateia. Seguiram os três, – o João Morais com a viola campaniça, o Isaac Achega na percussão e o Francesco Valente no baixo, – para “Bailão e Pedro Cigano”, música inserida no disco “Rossio”, de ”As 4 Estações” d’O Gajo, durante a qual apresentou todos os novos elementos do projecto, que vieram dar uma outra dinâmica às actuações ao vivo.
A despedida foi difícil e não demorou muito a que voltassem ao palco.
Houve tempo para dedicar um poema do palestiniano Khaled Juma, às crianças de Gaza, acompanhado de uma vela acesa como pano de fundo.
A vela apagou ao som de “Céu Cinzento”, tema do álbum “Não Lugar” de 2023.
Uma noite que teve de tudo e mais alguma coisa.
Esta nuvem carregada de coisas novas vai continuar a trovejar por aí. O Gajo já não está sentado e os palcos começam a ser pequenos para tamanho espetáculo.
“Segue forte o furacão!”